Soberanias

‘No nosso governo será abolido o complexo de vira-lata’, afirma Lula em Belém

Em ato com artistas e produtores na capital paraense, ex-presidente promete “revolução” no incentivo à produção cultural

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula foi recebido no Teatro da Paz lotado, em Belém, onde voltou a falar na criação de comitês estaduais de cultura

São Paulo – Em um “Ato da Cultura” em Belém, nesta quinta-feira (1º), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a afirmar que, como na área da educação, “é preciso parar de tratar a cultura como gasto”. Segundo ele, verbas dirigidas ao setor são investimento. “A cultura pode gerar muitos empregos, e gera prazer, alegria, conhecimento. Vamos retomar o Ministério da Cultura e criar comitês estaduais de cultura”, disse o candidato do PT à Presidência. O evento foi realizado no belo Teatro da Paz, na capital do Pará.

Lula disse que, em um eventual futuro governo seu, o país “vai readquirir o respeito no mundo”. “Os americanos vão nos respeitar, porque no nosso governo será abolido o complexo de vira-lata. Vamos querer ter uma relação civilizada com todos os países do mundo”, prometeu. Como em outras oportunidades, lembrou que “o último contencioso do Brasil foi na guerra do Paraguai” (1864-1870).

Ele criticou o postura de Jair Bolsonaro, que nos três anos e meio de mandato fez a pior política externa de quem se tem notícia na história do país. “Ele brigou tanto com a Venezuela que, quando não teve oxigênio em Manaus, foi a Venezuela que salvou muita gente”, afirmou. Durante a pandemia de covid-19, o país governado por Nicolás Maduro doou oxigênio para o Amazonas enfrentar a crise da falta de oxigênio hospitalar no estado.

O candidato citou uma fala de Chico Buarque para definir o caráter da política externa de Bolsonaro. “Não fale grosso com a Bolívia e fino com os Estados Unidos.”  O ex-presidente defende retomar as relações internacionais “com os que mais necessitam”. No caso da África, devido à divida histórica do Brasil com o continente que nos enviou os escravos.

Civilidade, nacionalidade e respeito

Voltando à cultura, Lula retomou a crítica a Bolsonaro. “Se dependesse de alguns governantes, a cultura seria um departamento do ministério da Agricultura”, ironizou. Segundo ele, a área é uma das mais importantes de um país. “A cultura de um povo dá civilidade, dá nacionalidade e respeito.”

Ele prometeu uma “revolução”, mas ressalvou: “A nossa revolução cultural não é a queimada de livros. Será aumentar a produção de livros e a leitura de livro”. O petista voltou a defender a nacionalização das culturas regionais. “Não é mais possível, no século 21, as TVs não terem programação estadual. Por que não tem programação com os artistas locais?”, questionou.

De modo geral, Lula se comprometeu, em Belém, a recuperar a economia, o poder aquisitivo do salário mínimo e criar empregos. Falou ainda em investir na educação, do ensino fundamental às universidades, além da ciência e tecnologia.

Calote na cultura

Presente ao evento, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) falou sobre a Medida Provisória 1.135/2022, que permite ao governo federal adiar para 2023 e 2024 repasses ao setor da cultura e eventos artísticos, como previsto nas leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2. O texto é, na verdade, a legalização do calote contra o setor, após o Congresso Nacional derrubar os vetos de Bolsonaro contra as leis.

Randolfe falou da “tragédia” promovida por Bolsonaro nos últimos anos no país. “E se tem um lugar em que a tragédia se abateu com força foi com os produtores culturais. A última maldade está sendo combatido sendo no Congresso, seja no STF. Não passarão”, prometeu. A oposição se movimenta para que o presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolva a MP a Bolsonaro.

À noite, Lula e campanha segue a agenda em Belém, em ato no Espaço Náutico Marine Clube. Nesta sexta (2), pela manhã, tem encontro com povos indígenas no Parque dos Igarapés, também na capital do Pará.

Lula cultura
Lula assiste a manifestação cultural paraense em ato no Teatro da Paz (Ricardo Stuckert)