trabalho e tecnologia

Greve de atores e roteiristas de Hollywood mobiliza categoria com 160 mil trabalhadores

Categoria luta pelo direito à remuneração frente ao obscuro mundo dos streamings, controlado pelas produtoras, e também enfrenta as ameaças do uso indiscriminado da Inteligência Artificial

D Thory / Pixabay
D Thory / Pixabay
É a primeira vez que uma greve do gênero acontece desde a década de 1960

São Paulo – Atores e roteiristas de Hollywood estão em greve. A paralisação das categorias afeta toda a produção audiovisual norte-americana, incluindo filmes, séries e programas de TV. São mais de 160 mil trabalhadores de uma das indústrias mais lucrativas do mundo de braços cruzados. Em pauta, um impasse sobre a remuneração destes profissionais e, também, o avanço das tecnologias de inteligência artificial (IA). “Apoio todos os sindicatos”, ressaltou a atriz Margot Robbie (Barbie).

É a primeira vez que uma greve do gênero acontece desde a década de 1960. Essa greve significa, na prática, que todas as produções estão paradas: filmes como Gladiador 2 (Ridley Scott) e Deadpool 3 (Shawn Levy), por exemplo. Já filmes em fase de pós-produção, como Duna, parte 2 (Denis Villaneuve), não devem sofrer diretamente. Contudo, os atores, muitos renomados internacionalmente, sequer participarão de eventos de divulgação, pré-estreias, entre outros eventos do tipo.

Isso significa que obras como Oppenheimer (de Christopher Nolan) e Barbie (de Greta Gerwig), grandes lançamentos desta semana, não contarão com a divulgação esperada pelos estúdios. Um evento do Oppenheimer, inclusive, chegou a ser suspenso no meio em razão da greve. Nolan não hesitou em apoiar seus atores.

O presidente do sindicato dos atores (SAG-AFTRA), Fran Drescher, argumenta que os estúdios estão ganhando como nunca e as remunerações são imprecisas. Não apenas das estrelas, mas também dublês e figurantes.

Categoria unida

“Eu, sinceramente, não acredito no quão distantes estamos em tantas coisas. Como eles [os estúdios] alegam pobreza, que estão perdendo dinheiro por todo lado, enquanto dão centenas de milhões de dólares para seus CEOs. Isso é nojento. Deveriam se envergonhar. Estão do lado errado da História”, disse em uma manifestação recente.

E a iniciativa do sindicato conta com ampla adesão dos atores. Na prática, todos. Desde os figurantes que aparecem segundos, ou apenas como cadáveres em séries policiais. A até grandes nomes como Mark Ruffalo, George Clooney, e estrelas de filmes recentes como Margot Robie (Barbie), Jamie Lee Curtis (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo) e Cilian Murphy (Oppenheimer).

As pautas da greve

Um dos pontos centrais da greve é o pagamento dos valores chamados “residuais”. Até então, atores ganhavam um cachê fixo e mais uma participação por exibição. Este modelo foi o sustento de muitos atores ao longo do tempo em grandes séries, como as chamadas sitcons. Friends, Seinfield, ou mesmo mais recentes, como The Big Bang Theory ou Two and a Half Man.

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Contudo, os serviços de streaming, como Netflix, Amazon e Hulu não divulgam a quantidade de pessoas que assistem aos conteúdos. Então, não há este repasse. Isso complica para fenômenos desta plataforma. Por exemplo, a atriz Jenna Ortega (Wandinha) viralizou e foi uma das obras mais vistas da história da Netflix. Contudo, ela não percebeu esse reconhecimento financeiro.

A questão da IA

Outro ponto de discussão é a IA. Especialmente para roteiristas, que lutam contra demissões em massa que podem ser resultado de roteiros pasteurizados, criados por aplicativos de IA generativa, como o ChatGPT.

Contudo, atores também podem sofrer com o avanço da tecnologia. O ator Bruce Willys, por exemplo, já vendeu os direitos de sua imagem para a produção de filmes. Em outro oposto, por exemplo, a cantora Madonna colocou em seu testamento um “direito à morte”. Ela pede que não usem sua imagem após sua morte através de IA, algo como feito com Elis Regina em uma propaganda de carro recentemente.