Excessos atrapalham em ‘O Sequestro do Metrô 123’

Em meio a esse caos visual de fotografia estourada, cores saturadas, cortes rápidos e câmera frenética existe uma questão moral soterrada

(Foto: Divulgação)

São Paulo – Há alguns momentos no suspense “O Sequestro do Metrô 123”, que estreia no país na sexta-feira (4), que comprovam estarmos diante de um filme de Tony Scott. É quando a câmera gira.

Num filme de Tony Scott, a câmera gira de todas as formas possíveis e imagináveis e, a cada novo trabalho, o diretor parece aumentar a lista de possibilidades para esse efeito. O problema é que há muito tempo esse tipo de artifício deixou de ser eficiente e passou a ser irritante.

Irmão mais novo de Ridley Scott, Tony chamou a atenção nos anos 1980 com “Fome de Viver”, mas ficou famoso mesmo em meados daquela década com “Top Gang – Ases Indomáveis”. Desde então, sua carreira andou na corda bamba dos filmes medíocres com cara de videoclipe.

É o caso de “O Sequestro do Metrô”. Trabalhando com um roteiro de Brian Helgeland (“Sobre Meninos e Lobos”), a partir de um romance de John Godey já filmado duas vezes – – em 1974, por Joseph Sargent e, em 1988, numa produção para a TV por Félix Enríquez Alcalá — o diretor encontra uma desculpa para todos os seus tiques visuais de comercial de televisão.

Como o título já entrega, o filme é sobre o sequestro de um trem do metrô de Nova York. John Travolta (o eterno Tony Manero) é o vilão, Denzel Washington (“O Gângster”), mais uma vez é o sujeito comum que salva o dia bancando o herói. A trama, por si, não tem nada de novo, mas poderia manter a tensão não fossem os exageros visuais de Scott.

Walter Garber (Washington) é um controlador de tráfego do metrô que atende a ligação do sequestrador Ryder (Travolta), que tomou um vagão com passageiros e, em uma hora, começará a matar um por minuto se o seu pedido de resgate não for atendido. É uma corrida contra o tempo — e Scott parece levar isso a sério demais com sua câmera giratória e planos que duram um piscar de olhos.

Em meio a esse caos visual de fotografia estourada, cores saturadas, cortes rápidos e câmera frenética existe uma questão moral soterrada. O personagem de Washington é investigado por suborno e o de Travolta tem um passado que vai se revelando pouco idôneo também.

O ator James Gandolfini (conhecido pela atuação como Tony Soprano) é o prefeito de uma Nova York pós-11 de Setembro, pós-Giuliani, na qual o dinheiro, mais do que nunca, manda e desmanda nos homens. Alguns aceitam as ordens por motivos nobres, outros, por pura ganância. Seria um comentário ácido — embora pouco original — não fosse o desvario ao qual “O Sequestro do Metrô 123” se entrega antes mesmo de acabar a sequência de créditos iniciais.

As cenas de ação, especialmente aquelas que acontecem na superfície da cidade (e não no vagão sequestrado) são absurdamente exageradas e parecem planejadas apenas para aplacar a fome de Scott pelo caos.

Fosse feito alguns anos atrás, ainda no calor do 11 de Setembro, talvez “O Sequestro do Metro 123” fosse mais palatável — ao menos para os nova-iorquinos. Agora, quase uma década depois do ataque terrorista, o filme se perde e fica girando em falso, como a câmera de seu diretor.

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Fonte: Reuters