Dhalia faz drama com foco internacional em ‘À Deriva’

Filme mostra as belas paisagens de Búzios (RJ) e conta com Débora Block e o francês Vincent Cassel no elenco

Cena do drama de Heitor Dhalia (Foto: Divulgação)

São Paulo- Primeiro filme internacional do diretor Heitor Dhalia, o drama “À Deriva” tem o astro francês Vincent Cassel (“O Ódio”, “Irreversível”) no principal papel masculino, do escritor Mathias.

Coprodução entre o Brasil e os EUA, teve sua première mundial na seção Un Certain Regard, do Festival de Cannes. O longa estreia em circuito nacional nesta sexta-feira (30).

O ponto de vista da história é o da adolescente Filipa (a estreante Laura Neiva, de apenas 14 anos), a filha mais velha de Mathias e Clarice (Débora Bloch). É dela o olhar que sintetiza o momento da crise que está no centro do roteiro, escrito pelo diretor Heitor Dhalia, com colaboração de Vera Egito (do curta “Espalhadas pelo Ar”).

É certamente um filme bem diferente de Dhalia, diretor de “Nina” (2004) e “O Cheiro do Ralo” (2007). Ele deixa de lado o humor negro que temperou aqueles dois filmes, buscando aliar um tom intimista a uma produção vistosa em termos de fotografia, música e montagem, que seguramente visa o mercado internacional. Não é pecado. Em todo caso, observa-se certa diluição dramatúrgica que não é inteiramente satisfatória.

Estreante, Laura Neiva não dá conta de todas as nuances esperadas de sua personagem, em crise adolescente e vendo seu mundo familiar desabar ao observar a traição do pai à mãe com uma outra moradora da praia (a norte-americana Camilla Belle, de “10.000 A. C.”).

Aparentemente, a estratégia de venda do filme no mercado internacional também focou na escolha de um elenco bonito, tanto na jovem atriz, que parece uma modelo, quanto nos seus amigos. Ali se vê um universo de classe média alta em que não há um único negro – o que não é realista quando se observa uma praia brasileira, no caso, Búzios (RJ). É uma nota secundária, talvez, mas soa falsa. E a falta de autenticidade corrompe a unidade dramática da história mais de uma vez.

Em seu primeiro papel num filme brasileiro, o francês Vincent Cassel até força mais sotaque do que tem ao falar português. Visitante constante do Brasil e admirador de seus músicos – como Seu Jorge, Racionais, Rapping Hood e Marcelo D2 -, ele está preso num papel que não lhe dá todas as expressões cabíveis – e isso não por causa do idioma, mas de problemas do roteiro.

Débora Bloch é a única a escapar dessas limitações, encarnando uma mulher de verdade, uma personagem que demonstra conhecer do avesso, dando-lhe carne, vida, dor, coragem. É seu melhor papel no cinema até agora, encerrando também uma ausência de oito anos das telas, desde “Caramuru – A Invenção do Brasil” (2000), de Guel Arraes.

As belas paisagens de Búzios, onde fica a casa da família, são uma atração à parte, num filme fotografado competentemente por Ricardo Della Rosa. A trilha sonora do veterano Antonio Pinto – frequente colaborador de Walter Salles, como no filme “Central do Brasil” – fornece moldura emotiva para a história. É um Brasil modelo exportação para o mundo em crise.

Fonte: Reuters

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