‘Che 2’ conclui painel sobre líder revolucionário

Filme traça um retrato bastante honesto de um homem cujo coração revolucionário estava acima de tudo

Del Toro foi premiado em Cannes por sua atuação (Foto: Divulgação)

São Paulo – Pela mídia, pelos seguidores, pelos fãs, pelos detratores, por aqueles que nem se dão ao trabalho de tentar compreendê-lo, o revolucionário argentino Ernesto “Che” Guevara é visto como santo ou demônio – dependendo do ponto de vista que se quer provar, sua figura é bastante maleável. O diretor norte-americano Steven Soderbergh tenta, no entanto, fazer um retrato desse personagem com certa isenção.

O resultado é um épico de cerca de 4 horas de duração, que no Brasil foi dividido em duas partes.

A segunda delas, “Che 2 – A Guerrilha”, chega aos cinemas do país nesta sexta-feira, alguns meses depois de “Che” (já disponível em DVD). Se na primeira parte, Che Guevara – interpretado por Benicio Del Toro – é visto pelo prisma humano, aqui o distanciamento quase documental do filme parece conferir a ele uma dimensão mítica.

De maneira simplista, o díptico poderia ser classificado como a ascensão e a queda de Che Guevara. Em “Che”, o vemos fazendo parte da Revolução Cubana e a chegada de Fidel Castro ao poder. Já “Che 2 – A Guerrilha”, acompanha os últimos dias de vida do personagem numa floresta boliviana. Até o clima do filme é diferente, mais soturno, denso.

Do ponto de vista técnico, Soderbergh é um dos cineastas norte-americanos mais completos da atualidade. Não apenas dirigiu os filmes, como também os fotografou. O que se vê na tela é um apuro técnico que impressiona.

Sem movimentos de câmera inventivos ou desnecessários, o diretor usa as imagens em benefício de uma narrativa – e, assim, a diferença do momento histórico para o personagem, nos dois filmes, fica bastante clara.

Na Bolívia, sofrendo uma crise de asma, Che está embrenhado no meio da floresta, depois de executar alguns trabalhos administrativos em Cuba. Ele pretende espalhar a revolução por toda a América do Sul, mas tudo parece conspirar contra, seja pelo clima pouco favorável ou pelos camponeses que não confiam em estrangeiros.

O personagem não conta com o apoio do partido comunista local, e, apesar de chegar disfarçado, a notícia de que está na Bolívia se espalha e chega aos ouvidos de seus inimigos. No entanto, “Che 2 – A Guerrilha” se esquiva de discussões políticas mais densas – especialmente aquelas que envolvem a morte do líder guerrilheiro.

Premiado em Cannes pela sua interpretação nos dois filmes – que no Festival do ano passado foram exibidos como um só – Del Toro está impressionante no papel do líder revolucionário. Mais do que interpretar, ele respira Che Guevara. O trabalho do ator é um dos maiores atrativos para se ver o filme.

Roteirizado por Peter Buchman e Benjamin A. van der Veen, que também tiveram como base o “Diário Boliviano”, de Guevara, “Che 2 – A Guerrilha” jamais se propõe a ser uma aula de história – o que, na verdade, é uma de suas qualidades. O filme não esclarece muito sobre o personagem histórico, nem traz nenhuma novidade, mas, ao mesmo tempo, traça um retrato bastante honesto de um homem cujo coração revolucionário estava acima de tudo.

Fonte: Reuters

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