Chávez domina a cena em filme de Oliver Stone

Diretor americano critica a grande mídia e seus estereótipos. Mesmo ouvindo presidentes da Bolívia, Equador, Paraguai, Argentina e Brasil, é o mandatário venezuelano quem domina a maior parte das atenções

(Foto: Divulgação)

São Paulo – “Ao Sul da Fronteira” mostra uma visão sobre o avanço da esquerda na América do Sul diferente da exibida pelos meios de comunicação no Brasil e, principalmente, nos Estados Unidos. Enquanto a maior parte da mídia americana e latino-americana “demoniza” presidentes como Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, Oliver Stone entrevista e fornece o espaço para eles exporem sua ideias livremente.

O documentário tem momentos em que se mostra até ingênuo por não levar em conta fatores pontuais nem ouvir qualquer outra versão do cenário. Mas critica com fervor os meios de comunicação que usam de estereótipos e informações errôneas para defender os interesses dos EUA ou das elites dos países sul-americanos.

As cenas tiradas doCanal Fox News falam por sí. O diretor seleciona trechos em que os apresentadores não têm informações corretas, confundem “cacau” com “coca” e nomeiam com exaustão os presidentes Chávez (Venezuela) e Morales (Bolívia) de ditadores sem  dizer o porquê.

Chávez aparece como protagonista e guia, com o modelo de sua revolução bolivariana, da tese de “Ao Sul da Fronteira”. Os depoimentos de Evo Morales, Rafael Correa (Equador), o casal Kirchner (Argentina), Raul Castro (Cuba), Fernando Lugo (Paraguai) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) vão desde considerações sobre o mandatário venezuelano à realizações de cada um em suas próprias nações. A integração regional também ganha a atenção dos presidentes.

Em visita a Bolívia, Stone masca folha de coca e joga futebol com Evo Morales, durante uma conversa sobre a vida do presidente boliviano e sua chegada a presidência. Morales explica como aguenta as ofensas da imprensa. “Os meios de comunição sempre vão criminalizar a luta contra o neoliberalismo, colonialismo e imperialismo”, desabafa.

A trajetória política de Chávez, sua tentativa de golpe em 1992 e o golpe que ele próprio sofreu em 2002 é reconstituída por meio de trechos de noticiários e imagens do presidente venezuelano, com menções à intervenção americana no caso e a volta por cima e com aclamação popular. “É uma revolução pacífica, mas armada”, define Chávez a revolução bolivariana

A presidente Cristina Kirchner destaca que nunca os “governantes se pareceram tanto com os governados”, citando o exemplo de Morales que é o primeiro presidente de origem indígena eleito na Bolívia (como cerca de 70% da população boliviana). Já Néstor Kirchner, marido de Cristina e ex-presidente, comenta a crise argentina de 2001 e como o Fundo Monetário Internacional (FMI) – organização bastante criticada durante o documentário – foi tratado.

Desvio

O longa-metragem estava sendo produzido durante a eleição norte-americana. Stone aproveitou a mudança e comentou o encontro de Chávez e Obama na 5ª Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, que rendeu críticas da imprensa americana ao presidente. Em uma das entrevistas, o presidente Lula, cita três ações que OBama deveria ter. A primeira seria acabar com o embargo de Cuba, a segunda, levar a paz ao Oriente Médio e, em tom de brincadeira, a terceira seria “convidar Chávez para visitar os Estados Unidos”.

Oliver Stone conversou com jornalistas e alguns poucos convidados, na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), logo após a exibição do filme. O diretor iria conceder uma entrevisa coletiva, mas após atrasos em seu embarque em Quito (Equador) e ser barrado em Cumbica por falta de visto, ele acabou por responder poucas perguntas.

O diretor americano elogiou o papel do Brasil e do presidente Lula no acordo com o Irã. “O acordo está desafiando toda a dinâmica de poder (internacional)”, comemorou. Ele também comentou sobre as transformações que os governos de esquerda trouxeram para a América do Sul. “Existem consequências para o mundo inteiro pelo fato do continente estar se tornando mais independente”, completou Stone.

Na terça-feira (1º) Stone, encontrou-se com a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff e seguiu para Cochabamba (Bolívia) para continuar a divulgação de “Ao Sul da Fronteira” pela América Latina.