Após duas noites em SP, U2 faz jus a título de maior turnê de rock de todos os tempos

Bono Vox, líder da banda irlandesa, chegou a dizer que o governador de São Paulo havia declarado oficialmente que, nesta segunda-feira, ninguém precisaria trabalhar em função do 'Dia do U2'

(Foto: Bruna Sanches/ Time For Fun)

São Paulo – O título do filme de 1952, estrelado por Charlton Heston e dirigido por Cecil B. DeMille, a respeito de um circo, “O Maior Espetáculo da Terra”, vem bem a calhar para o show realizado pelo U2, no domingo (11), diante de cerca de 90 mil fãs enlouquecidos no estádio do Morumbi, em São Paulo. Após uma abertura competente, mas um pouco fria, dos britânicos do Muse, a banda irlandesa comprovou porque mereceu conquistar, com essa apresentação, segundo estimativa da Billboard, o título de detentora da maior turnê de rock de todos os tempos, “360º Tour”, com faturamento de R$ 888,7 milhões.

Depois de muita chuva, o público mal acreditava quando um relógio mostrado no telão começou a ser destruído após os ponteiros se encontrarem a meia-noite e passou a tocar “A Minha Menina”, de Jorge Benjor, e “Space Oddity”, do David Bowie. Era a senha que faltava para que Bono Vox, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. entrarem no palco e cantarem “Even Better Than The Real Thing”. Em seguida, foi a vez de “Out Of Control”, música do álbum “Boy”, de 1980, que não era tocada pela banda desde 2006. Os momentos mais esperados foram as dos clássicos “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, “Pride (In The Name Of Love)”, “With or Without You” e “Where The Streets Have No Name”, entre outras. Porém, o público presenciou algo inédito – até então a música “Zooropa” nunca havia sido apresentada na íntegra.

Tentando entrar em contato o máximo possível com os fãs, seja desfilando por duas pontes que giravam em torno do palco, seja convidando uma garota para recitar parte da tradução da canção “Beautiful Day”, o U2 provou mais uma vez que sabe fazer um show de rock’n’roll da melhor qualidade e levar o público ao delírio quase o tempo todo. Tentando falar o máximo de português possível, Bono Vox declarou que o público estava “de boa” e que o governador de São Paulo havia declarado oficialmente que, nesta segunda-feira (11), ninguém precisaria trabalhar em função do “Dia do U2”; brincou com The Edge, dizendo ser ele o mais carente e inseguro da banda; e declarou o papel de liderança mundial assumido atualmente pelo Brasil.

Com 35 anos de estrada, consolidando sucessos, a banda possui a grande qualidade de variar o máximo possível o repertório de um show para o outro. Com relação ao sábado, saíram “I Will Follow”, “Stuck in a Moment You Can’t Get Out Of”, “City of Blinding Lights”, “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight” e “Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me”. No lugar, entraram “Out of Control”, “Pride (In The Name of Love)”, “North Star”, “Zooropa”, “Desmond”, “Ultraviolet” e uma fantástica interpretação de “Blackbird”, dos Beatles. O show ainda contou com citação de “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” e “Helter Skelter”, ambas dos Beatles; “Relax (Don’t Do It)”, do Frankie Goes To Hollywood; e “Singin’in the Rain”, tema do musical classic “Cantando na Chuva”.

Só isso já seria o suficiente para convencer os cerca de 90 mil presentes. Porém, há o palco gigantesco de 360º, que permite que os estádios sejam ocupados por completo. Ele pesa 280 toneladas e chama atenção pela suntuosidade das quatro garras, separadas entre si por cerca de 78 metros. Há também um incrível jogo de luzes, devidamente cuidados pelo craque da iluminação Ethan Weber, e um telão gigantesco, que vai ganhando formas diversas, com direito a muita fumaça e raios laser apontados para o céu.

Há um momento, por exemplo, em que a banda toca dentro do telão, que se torna circular, parecido com um globo da morte, dos antigos circos. Em outro momento, ele mostra imagens dos integrantes ao vivo ao lado de outras de arquivo, deles em diferentes cenários na década de 1980 e, portanto, no início da carreira.  Claro que não faltam momentos politicamente corretos característicos da carreira de Bono Vox, defendendo a união entre povos e agradecendo a Anistia Internacional. Mas o que ele diz faz muito sentido para as 90 mil pessoas que se confraternizam num show em que não há brigas, nem empurra-empurra, mas muita paz e alegria.

Entre os presentes, estava a professora de inglês Nathalia Moretti, de 22 anos, que levou mais de dez horas de sua casa em Londrina (PR) até o estádio do Morumbi, em São Paulo, para ver uma de suas bandas preferidas. Ela havia visto uma das apresentações dos irlandeses em 2006 no mesmo local e resolveu repetir a dose, numa excursão de 25 pessoas.

“O U2 é ótimo motivo para levar todo esse tempo de estrada e mais várias horas aqui aguardando. Sempre compensa. No outro show, vim até de perna quebrada. Mas agora foi muito melhor, até em função da estrutura do palco e de poder vê-los tão de perto”. Ela chegou por volta das 15h30 e aguentou firme o tempo todo numa das grades. Porém, no final, não se conteve e declarou: “Nossa, acho que minha maquiagem deve estar manchada pelo tanto que eu chorei”. Ela já pensa em voltar na quarta-feira, 13 de abril, na última apresentação da banda irlandesa no Morumbi, nessa rápida passagem pelo Brasil.