‘500 Dias com Ela’ brinca com clichês do romance

(Foto: Divulgação) São Paulo – Um dos gêneros em que a média da produção mais abusa dos clichês, a comédia romântica, felizmente, é às vezes encarada com mais criatividade e […]

(Foto: Divulgação)

São Paulo – Um dos gêneros em que a média da produção mais abusa dos clichês, a comédia romântica, felizmente, é às vezes encarada com mais criatividade e frescor. É o caso de “500 Dias com Ela”, trabalho do estreante Marc Webb, entrando em circuito nacional.

Webb, na verdade, é de primeira viagem só no cinema, mas não é estranho ao audiovisual. Ele vem de uma carreira premiada como realizador de videoclipes para a MTV. Ele inclusive usa a experiência anterior para tornar o visual de seu filme mais rico – como quando recorre à tela dividida para retratar a diferença entre a expectativa e realidade de seu protagonista (Joseph Gordon-Levitt) numa determinada situação.

Até a escolha de Gordon-Levitt como protagonista aqui não foi óbvia nem natural. Ele nem é considerado galã, nem é ator habitual de filmes de comédias românticas, embora tenha frequentado o cast de “Dez Coisas que Odeio em Você” (99). Levitt é um rosto mais conhecido de dramas como o recente “Milagre em St. Anna”, de Spike Lee. Por isso mesmo é que, ao assistir ao filme, não se sabe exatamente o que esperar dele. E há razões para se surpreender positivamente.

Nada daria certo se não se contasse, de saída, com um roteiro esperto – assinado por Scott Neustadter e Michael R. Weber. É daí que saem as situações que vão unir os caminhos do arquiteto frustrado Tom (Levitt) e sua nova colega de trabalho, num escritório que cria cartões corporativos: Summer (Zooey Deschanel, de “Sim Senhor”.

De previsível numa comédia romântica, Summer só tem a beleza. Ela nem é loira, nem tem o comportamento casadouro das heroínas da maioria destas histórias. Ao contrário, ela é bem independente e resiste a uma ligação mais estável com Tom.

O desenrolar de todos os incidentes, desde os que os aproximam – envolvendo um encontro no elevador e uma paixão em comum pelo grupo musical Smiths – até aos que levam a um estremecimento também não seguem a cartilha habitual do gênero.

Uma das qualidades deste filme está em como retrata a tristeza de Tom pela possibilidade de perder sua musa. Uma das sequências mais criativas retrata o rapaz na maior depressão assistindo a “filmes europeus”, em preto-e-branco – e que nada mais são do que refilmagens, feitas pela equipe do próprio Webb, a partir de clássicos de Ingmar Bergman, como “Persona” e “O Sétimo Selo” (só que aqui o resultado do jogo de xadrez é bem mais engraçado do que no original).

O último toque não rotineiro da história é que não há final feliz automático. Sem entregar detalhes, abre-se um leque de possibilidades, bem mais realistas do que a média neste tipo de filme – e, por isso mesmo, bem mais agradável de acompanhar.

Fonte: Reuters

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