Sobre falar e ouvir

Elika Takimoto escreve sobre o desafio de dialogar com um negacionista

Em seu novo livro, a física e doutora em Filosofia alerta: somos todos negacionistas de alguma forma e dialogar é fundamental. É o que sustenta uma democracia

Reprodução / Montagem RBA
Reprodução / Montagem RBA

São Paulo – Negacionista é uma pessoa que nega fatos, dados, rejeita a realidade devido a crenças, valores, para escapar de uma verdade que traga desconforto. A definição é da professora de Física e doutora em Filosofia Elika Takimoto. Assim, fica difícil negar que em algum momento da vida não tenhamos sido negacionistas, pois, se negarmos, talvez confirmemos nosso negacionismo. Brincadeiras à parte, e tentando simplificar, é um pouco isso que a professora, mestra em História das Ciências, explica em seu novo livro Como Dialogar com um Negacionista (Editora Livraria da Física, R$ 39). Em 152 páginas, Elika demonstra, em linguagem atrativa, e por exemplos de erros, acertos e contradições das descobertas científicas ao longo da história do mundo, como esse tão falado negacionismo é coisa antiga e bem mais complexa do que parece a um olhar superficial.

Não se trata somente de taxar como negacionista aqueles que acreditam que a Terra é plana, ou que a vacina contra a covid-19 pode vir com chip implantado para controle populacional, defende a autora. “Muito possivelmente, você está se irritando porque não consegue dialogar com quem, morando no mesmo mundo e vendo as mesmas coisas que você, pensa tão diferente.”


“A paciência que Galileu teve para conversar com pessoas que se recusavam a olhar no telescópio para confirmar que a Lua, diferentemente do que pensavam, não é uma circunferência perfeita tem nos faltado. E sem ela não há o diálogo de que precisamos”


A resposta à provocação título do livro está no diálogo, e para isso, ela avisa, é preciso valorizar a fala, mas também a escuta. “Em um diálogo bom não existe ganhador ou perdedor. Tem os dois ganhando, aprendendo muito. Quando faz isso de forma honesta, humilde, começa a entender que os mecanismos que acontecem na cabeça do negacionista podem acontecer na sua cabeça também.”

Urgente

Em entrevista à RBA, Elika explicou que não existe negacionista mais ou menos consciente, o que pode existir são negacionistas perigosos e outros menos. “O negacionista perigoso é o que nega a vantagem de você se vacinar e essa pessoa começa a falar sobre isso e influenciar mais pessoas, como é o caso do chefe da nossa nação. Ele nega o benefício da vacina e, pelo cargo que ocupa, influencia muitas pessoas. Ele é um negacionista muito perigoso”, compara. “Ter sabedoria para derrubar os muros que impeçam o diálogo é urgente”, avalia.

A professora mostra, ainda, que ser negacionista não é questão cognitiva, mas questão social, psicológica, econômica, política. “E como a política está em tudo, e a gente está lutando por uma boa política, precisamos lutar por um bom diálogo.”


“Precisamos saber diferenciar o não conhecimento que mobiliza a ciência e a ignorância fabricada que a imobiliza”


Cientista e escritora premiada – ela é vencedora do Prêmio Saraiva de Literatura e tem 10 livros publicados –, Elika Takimoto é também primeira suplente de deputada estadual do PT na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A maneira como a professora se aproximou da política é relatada na última pergunta desta entrevista, que você pode ouvir, na íntegra, a seguir.