Teatro

Peça encenada em antigo prostíbulo doméstico aborda violência de gênero

'Casa de Tolerância', da Companhia do Miolo, discute as violências cometidas contra o corpo da mulher e as intolerâncias e discriminações contra tudo o que é ligado ao feminino

Divulgação

‘Os corpos à margem, vão sendo lembrados e exaltados por suas presenças insistentes pela vida’

Nada de palco nem cortinas de veludo. A peça Casa de Tolerância é encenada em um misterioso sobrado no bairro da Penha, na zona leste de São Paulo. Ali, antes de a Companhia do Miolo transformar o espaço em sua sede, em 2011, funcionava um prostíbulo doméstico, ainda hoje um tabu entre os moradores da região. O espetáculo dirigido por Patrícia Gifford fica em cartaz aos sábados e domingos até dia 13 de dezembro e para assisti-lo é necessário reservar os ingressos antecipadamente, já que apenas quinze pessoas participam de cada apresentação.

Feita a partir de pesquisas que a companhia realizou com moradores e em prostíbulos domésticos da região, a peça discute temas ligados à violência contra a mulher, à intolerância e ao preconceito contra tudo o que tem ligação com o feminino. As atrizes convidam o público a saborear uma galinhada, mote que dará vida às histórias de mulheres exploradas, violentadas e desaparecidas. A casa é usada como testemunha “viva” do bairro e representa “uma arqueologia museológica, um memorial de tantas vozes silenciadas nesta condição do feminino”.

O público acompanha as atrizes em uma travessia pelos cômodos da casa onde as mulheres realizam ações do cotidiano doméstico que, segundo a companhia, “ganham outras dimensões quando colocadas em contato com narrativas sobre a memória do lugar, uma antiga casa de tolerância, além de outras narrativas como a possibilidade de que alguns corpos podem ter sido enterrados ou emparedados neste local”.

Elementos reais e ficcionais

Os relatos que a Companhia do Miolo ouviu da comunidade local foram o ponto de partida para encontrar outras histórias de violência, como por exemplo os famosos casos de feminicídio cometidos na Cidade Juarez, no México, onde estima-se que desde 1993 mais de cinco mil mulheres foram mortas ou estão desaparecidas.

A reflexão que Casa de Tolerância propõe foi motivada pelas violências históricas contra os corpos femininos, de mulheres, pessoas trans, transformers e outro(as) que ousam exaltar o feminino. “É neste sentido, que o espetáculo por meio de narrativas reais/ficcionais, busca em uma travessia por esta casa, dar lugar a potência de vida desses corpos silenciados. Desde a exploração sexual infanto-juvenil, ao extermínio por motivações transfóbicas, os corpos à margem, vão sendo lembrados e exaltados por suas presenças insistentes pela vida”, afirma o grupo.

Casa de Tolerância
Quando: aos sábados e domingos, às 17h,até 13 de dezembro
Onde: Sede da Companhia do Miolo
Rua Doutor Ismael Dias, 111, Penha, São Paulo (SP)
Capacidade: 15 pessoas
Duração: 120 minutos
Quanto: grátis
Os ingressos deverão ser reservados pelo email [email protected] ou pelo telefone (11) 3871-0871
Classificação: 14 anos

Ficha técnica
Direção: Patricia Gifford
Atrizes: Edi Cardoso, Renata Lemes e Jordana Dolores
Dramaturgia: Solange Dias
Direção musical: Antonia Matos
Cenografia: Cibele Lucena e Jerusa Messina
Figurino: Anahí Asa
Luz: Camila Andrade
Produção: Rafael Procópio