'Uma Canção Interrompida'

Em livro, escritor diz que entrevista forjada foi condição para Geraldo Vandré voltar ao Brasil

Em obra de 400 páginas, biografia não autorizada sobre o cantor e compositor, que consumiu dez anos de apuração, enfatiza os momentos históricos de sua carreira

©reprodução
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Capa de disco de Vandré que inclui a composição que marcou sua carreira. Biografia recém lançada conta a história do mito

São Paulo – Em entrevista para o Seu Jornal, da TVT, nesta quinta-feira (4), o jornalista e escritor Vitor Nuzzi, autor da biografia não autorizada Geraldo Vandré — Uma Canção Interrompida, conta como foi persistente e teimoso para escrever o livro e apresentar ao público a trajetória do artista.

O autor revela que o interesse em escrever o livro começou há dez anos. “O projeto iniciou quando ele completou 70 anos, este ano ele fará 80. Eu acredito que o Vandré é uma pessoa que mereceria ter a sua obra mais conhecida. Porque às vezes as pessoas conhecem mais as lendas e menos as músicas. Apesar dele ter uma carreira musical curta, ele tem uma obra que merece ser mais conhecida. Ele é lembrado por uma só música.”

Nuzzi conta que o fascínio pelo cantor se iniciou durante a juventude, nos anos 1980. “Tinha curiosidade pela história do Vandré, porque ele faz parte daquela geração de músicos dos anos 60, e quase todos tiveram problemas com a ditadura, saíram do país, interromperam as carreiras. Mas todos retornaram, estão aí até hoje, menos o Vandré.”

Durante o carnaval de 1969, o compositor da canção Pra não dizer que não falei das flores saiu do país. Na biografia, o escritor afirma que, em 1973, houve uma negociação para o retorno de Geraldo do exílio ao Brasil. Segundo ele, foi firmado um acordo que incluía uma falsa entrevista.

“Ele estava no exílio um pouco doente, e a família começou a negociar com o governo militar, para que ele pudesse voltar ao Brasil sob algumas condições. Uma dessas condições foi uma entrevista forjada, que saiu no Jornal Nacional, um mês depois do retorno de fato dele ao Brasil. Ele voltou em julho de 1973, e em agosto o programa divulgou uma matéria como se ele estivesse voltando ao Brasil naquele momento. As perguntas foram previamente selecionadas pelos próprios agentes federais, para que ele falasse que não tinha ligação com nenhum grupo político, que ele teria sido usado nos anos 60, ele só queria fazer canções de amor, e que esperava se integrar à realidade brasileira”, conta.

No rádio, música e entrevista
Em entrevista a Oswaldo Luiz Colibri Vitta, na Rádio Brasil Atual, Vitor Nuzzi conta detalhes do processo de pesquisa e produção do livro. Nuzzi é repórter e editor-assistente do portal RBA e da Revista do Brasil, com rara experiência na cobertura do mundo do trabalho e amplo repertório em temas da cultura e das artes. Na matéria especial da rádio, o diálogo é “ilustrado” com diversas abordagens musicais da carreira do compositor. Ouça aqui.

O jornalista explica que não conseguiu o apoio do cantor para escrever o livro, mas persistiu no projeto. Ele descreve as impressões que teve após os contatos com o artista. “Vandré é uma pessoa muito arredia. Ele realmente não gosta de conversar, nem de jornalista. Não tem interesse em retomar a carreira comercial. Ele continua compondo, faz música, faz poesia, mas ele não tem interesse em mostrar isso para o grande público. Eu o defino como imprevisível, recluso e livre.”

Sem a autorização do biografado, Nuzzi não pode comercializar o livro. Bancado pelo próprio bolso, foram produzidos apenas 100 exemplares, os quais ele distribui por correio.

Assista a entrevista para a TVT: