‘Um lugar ao Sol’ retrata contrastes sociais

(Foto: Divulgação) São Paulo – O documentário “Um Lugar ao Sol” é quase uma obra interativa. Dirigido por Gabriel Mascaro, é um filme que busca cumplicidade com seu público – […]

(Foto: Divulgação)

São Paulo – O documentário “Um Lugar ao Sol” é quase uma obra interativa. Dirigido por Gabriel Mascaro, é um filme que busca cumplicidade com seu público – e consegue. Ao centro, estão as coberturas luxuosas de habitantes ricos do Recife (cidade natal do diretor), São Paulo e Rio de Janeiro. Seus moradores são uma amostra da elite, olhando de cima para baixo – tanto real quanto metaforicamente – a cidade e a sociedade que os cerca.

O documentário, que estreia no projeto Sessão Vitrine, partiu de um livro de circulação bastante restrita que faz a catalogação dos ricos brasileiros. O diretor e sua equipe tiveram acesso a essa ‘bíblia do quem-é-quem’ entre aqueles que têm muito dinheiro e foram em busca dessas pessoas.

A maioria não aceitou participar do filme. Mas aqueles que concordaram em dar entrevistas e abrir seus apartamentos – pouco menos de dez – formam um painel significativo.

O filme começa com coberturas do Recife, cidade que passa por um processo de verticalização relativamente recente – ao contrário de Rio e São Paulo. Os novos e velhos ricos, cada vez mais, têm a chance de morar num desses apartamentos.

O discurso, em todas as cidades, é mais ou menos o mesmo: a segurança, em primeiro lugar, seguida do status.

De forma bastante sutil, mas muito eficiente, Mascaro mostra o abismo social que coexiste no Brasil. Diferenças de classe tornam-se gritantes, especialmente quando os ricos as olham do topo de seus prédios. Uma carioca dá o depoimento mais contundente. Ela diz que é encantador ver a troca de tiros entre dois morros ao lado de seu prédio, comparando-a com um espetáculo pirotécnico e acha lindo. E, ao final, conclui, ingênua: “Não sei qual a relação entre as duas gangues”.

A alienação de várias pessoas parece proporcional à altura de seus apartamentos. Uma delas agradece ao fato de ter um apartamento grande e não precisar ouvir a conversa das domésticas e o barulho das panelas – embora acentue que gosta muito de todos os seus empregados.

Já outra, em São Paulo, tem mais de 50 câmeras espalhadas pelo apartamento, além de um cachorro empalhado e um animal de pelúcia que acaricia o tempo todo durante a entrevista. Ela faz uma das analogias mais estranhas das entrevistas. Por morar em um andar tão elevado, ela está mais próxima de Deus – e, consequentemente, poderá ser ouvida e atendida mais facilmente em suas preces.

A ousadia do filme está exatamente em falar dos ricos e seu modo de vida – assunto que parece tabu no Brasil. O documentário de Mascaro faz dessa abordagem o ponto de partida para a reflexão do estado atual das coisas no país, mas deixa as conclusões para o público.

Veja o trailer do documentário:


Fonte: Reuters

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