Para culpar governo, mídia aproveita falta de informação

Imprensa e oposição tentam, a todo custo, apontar culpados na análise do blecaute

Diante da demora em uma manifestação oficial do governo federal sobre as causas do blecaute da noite de terça-feira (10), comentaristas e apresentadores se revezaram na tentativa de atribuir responsabilidades. Boa parte deles tentou associar a falha a políticas do governo federal e até a movimentos sociais.

Lúcia Hippólito, cientista política e comentarista da Rede CBN, foi acionada ainda durante o blecaute e atribuiu ao aumento de vendas de eletrodomésticos uma das prováveis causas da situação. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) teria gerado maior consumo e uso de itens da linha branca, sobrecarregando, na teoria da analista, a rede elétrica.

O comentário, ouvido a radinho de pilhas ou via celular, ganhou no dia seguinte repercussão na web. No blog do jornalista Luis Nassif, um comentário do internauta Luciano Prado lamenta a declaração. “O pior se deu ontem (terça) à noite quando a jornalista Lucia Hippolito entrou ao vivo pela CBN/Globo, direto de sua residência para informar ao público ouvinte que o problema do blackout ocorrera porque o presidente Lula autorizara a isenção de impostos da linha branca fazendo com que muitos aparelhos (novos) em funcionamento sobrecarregassem o sistema.”

Pela manhã, em sua coluna diária, ela criticou o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, por afirmar que é inadequada a comparação com o racionamento de energia elétrica realizado em 2001 com o blecaute de terça. Lúcia Hippólito sustenta que o ministro “fala besteira” mas concorda que se trata de uma comparação indevida.

Outro que apostou na especulação para buscar responsáveis foi Alexandre Garcia, apresentador do Bom Dia Brasil, da TV Globo. Em entrevista com o físico Luiz Pinguelli Rosa, questionou-o sobre a possibilidade de sabotagem no sistema, já que a única preocupação com o sistema elétrico estava na trasmissão. Ele associou a possibilidade a “ameaças de índios e do MST a hidrelétricas e torres de transmissão”. O entrevistado descartou a hipótese.

Entre os parlamentares de oposição ao governo federal, houve manifestações variadas. O senador Artur Virgílio (PSDB-AM), líder do partido na Casa, foi rápido ao tecer críticas ao governo, mas em tom ressentido, pelos ataques sofridos quando integrava o governo de Fernando Henrique Cardoso.

Em 1999, um blecaute teve como causa apontada um raio na cidade de Bauru (SP), em meio aos primeiros testes após as privatizações do sistema elétrico. Dois anos depois, o governo promoveu um racionamento de energia por ter contado com um volume de chuvas acima da média em um ano de estiagem.

“No passado, eles (integrantes do atual governo, então na oposição) não aceitaram as explicações do governo de que havia uma causa climática para o problema”, disparou em entrevista ao Estadão Online. “E a verdade é que, depois de todo esse tempo, eles não resolveram o que eles próprios diziam ser o problema”, completou.

Ele prometeu, ainda nesta quarta-feira (11), convocar os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão, e da Casa Civil, Dilma Rousseff para prestar esclarecimentos na Comissão de Infraestrutura do Senado.

Embora tenha prometido não ser “leviano” a ponto de usar o termo “apagão” para designar o blecaute, mudou de ideia. “No governo passado o que houve foi um racionamento, desta vez foi apagão”, revisou.

Apesar de especialistas descartarem problemas no modelo energético, o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), tentou vincular o caso à imagem de Dilma Rousseff, pré-candidata do governo á presidência da República. “O modelo implantado por Dilma expulsou os investidores e o governo não investiu, provocando o colapso”, disse.

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