‘Sem mídia’ protestam em frente da Folha contra artigo de Benjamin

Neste sábado (5), comandados pelo blogueiro Eduardo Guimarães, o Movimento dos Sem Mídia pretende ler um manifesto crítico ao jornal pela publicação de artigo com 'acusação irresponsável e covarde'

Guimarães em frente ao Ministério Público, em 2008, quando protocolou ação contra veículos por alarmismo indevido sobre a febre amarela (Foto: Cidania.com/Reprodução)

Pela terceira vez em três anos, o Movimento dos Sem Mídia vai à frente do prédio do jornal Folha de S.Paulo, nos Campos Elísios, em na capital paulista, protestar contra o jornal neste sábado (5), a partir das 10h. Desta vez, a motivação é o artigo assinado por César Benjamin no dia 27 que acusava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter tentado seduzir um jovem quando esteve preso.

Para Eduardo Guimarães, presidente do Movimento dos Sem Mídia (MSM) e autor do blogue Cidadania.com, o resultado da manifestação é uma incógnita. Segundo ele, diferentemente dos protestos anteriores, este não foi encampado pela mídia alternativa como um todo. Há pelo menos cem pessoas que escreveram ao blogue confirmando presença.

“Acredito que (a mobilização) pode surpreender”, afirma Guimarães à Rede Brasil Atual. “De qualquer maneira, eu digo com pureza d’alma, eu iria sozinho fazer isso. Chega um momento em que temos de pôr o pé na porta, de dizer ‘não, este limite não pode ser ultrapassado'”, desabafa.

O artigo em questão trazia um relato de Benjamim, ex-militante do PT e do PSOL, a propósito de comentar o filme “Lula, o filho de Brasil”. Em uma página inteira da Folha, relatou sua experiência de preso político e, em quatro parágrafos, enxertou uma conversa datada de 1994 que afirma ter mantido com Lula, então candidato à Presidência. A conversa revelaria uma figura compulsiva por sexo que teria tentado até seduzir um adolescente mantido preso na mesma cela do DOI/Codi em 1976.

Um manifesto de 7,5 mil caracteres elenca os motivos de indignação dos ativistas, para quem o jornal é o pior dos veículos da mídia comercial, considerada por eles como partidarizada e anti-governo. Eles criticam ainda o jornal por publicar uma acusação sem “ouvir um acusado”. A gravidade da posição da Folha está relacionada ao fato de ela tentar “dissimular suas preferências políticas e de ignorar todos os princípios básicos de todos os manuais de jornalismo conhecidos” (leia abaixo).

A principal ressalva ao protesto, entre blogues que apoiaram as ações anteriores, foi feita pelo jornalista Rodrigo Vianna. Pedindo “cautela com os provocadores”, ele elencou dois motivos para não comparecer ao ato. “Acho que não devemos levar a Folha mais a sério, um ato em frente a jornal, no fundo, é uma forma de (anda) dar legitimidade ao diário decadente”, escreveu.

O segundo argumento, mais polêmico, é que, “às vésperas de uma campanha eleitoral que deve ser a mais suja da história”, poderia haver provocações “armadas” para gerar confrontos com a polícia. A suspeita de Vianna é que a provocaçaõ “transformaria o jornal em vítima da ‘esquerda'”.

“Espero que seja exagero”, ressalta Guimarães. “E, se não fosse exagero, não poderíamos aceitar isso, porque uma democracia precisa de limites aos que tentam impedi-la de funcionar”, explica. “Fiz essa convocação porque acredito que a indignação das pessoas é maior do que o medo e a preguiça”, completa.

Segundo o blogueiro, o histórico de ações “pacíficas, respeitosas e pertinentes à argumentação séria” do MSM mostra “jamais poderia partir de nós qualquer tipo de atitude beligerante”. “Apenas queremos dizer nossas razões, porque somos calados, somos sem mídia, não temos como fazer o contraponto a um discurso único que pretende sufocar a sociedade e vender barbaridades”, acusa.

Histórico

O movimento foi registrado em 2007 como associação. A iniciativa de promover a primeira manifestação contra o jornal ocorreu em decorrência do partidarismo da cobertura da mídia. Depois, em 2008, após o alarmismo da mídia em decorrência de casos de febre amarela no país, a entidade pediu ao Ministério Público uma ação judicial contra veículos de mídia. O pedido protocolado e aceito pelo MP pedia que as empresas fosse obrigadas a ressarcir os cofres públicos pelos prejuízos causados pelo alarmismo descabido. Isso porque o não havia surto e pelo menos uma pessoa morreu por complicações da vacina.

Em fevereiro deste ano, os ativistas voltaram à frente da sede do grupo Folha, desta vez para criticar o uso do termo “ditabranda” em um editorial do principal jornal da empresa. O editorialista recorreu ao neologismo que relativiza o autoritarismo do regime militar para acusar o governo Hugo Chávez.

Guimarães é representante comercial de empresas exportadoras de peças usadas na construção civil. Aos 50 anos, ele não é filiado a partidos políticos nem recebe recursos para manter seu blogue. Pai de duas filhas, expôs aos leitores o drama da recuperação da mais nova que, por 80 dias, permaneceu internada em uma central de terapia intensiva (CTI).

Ele afirma manter o blogue e se motivar a fazer protestos contra o discurso único da mídia comercial por querer dar um “exemplo bom” para a sociedade.

Manifesto do MSM

O Movimento dos Sem Mídia, entidade da sociedade civil fundada em 13 de outubro de 2007 a partir de manifestação de repúdio de cidadãos (então ainda desorganizados) à realidade trágica que vige no Brasil de os seus maiores órgãos de imprensa atuarem como meros apêndices de partidos políticos, volta a se manifestar publicamente.

O que nos trás aqui não envolve apenas o jornal Folha de São Paulo, mas um grupo restrito de meios de comunicação. Este jornal apenas foi escolhido como símbolo do mau jornalismo que é praticado pelos impérios de comunicação controlados por meia dúzia de famílias abastadas.

Estamos aqui hoje principalmente para protestar contra o ataque covarde deste “órgão de imprensa” não a um político, não a um partido, mas a duas instituições nacionais, a Presidência da República e o jornalismo – e, por conseguinte, ao povo brasileiro.

Clique aqui para ler a continuação do manifesto

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