Moradores irão apresentar a secretário de Haddad projeto alternativo à Nova Luz

Proposta tem como foco reocupação de prédios vazios. Expectativa é de reunião com novo secretário de Desenvolvimento Urbano paulistano antes da posse, em 1º de janeiro

Ocupados por pessoas de baixa renda, imóveis da esquina da R. Helvétia com Av. Dino Bueno seriam demolidos no atual projeto (Foto: Gerardo Lazzari)

São Paulo – Moradores da região da Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, pretendem entregar para o futuro secretário de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco, um projeto de moradia alternativo ao Nova Luz, proposta da gestão de José Serra (PSDB) que privatiza a área. A reunião entre os moradores do bairro e Mello Franco ainda não tem dada marcada, mas deve ser realizada ainda este mês.

O projeto, elaborado ao londo de dois anos de debate entre a população em parceria com arquitetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), prevê a redução das demolições, que atualmente chegam a 30% de toda a área construída do perímetro atingido pelo Nova Luz e, consequentemente, menos desapropriações. A ideia é incentivar a reforma e ocupação de edifícios subutilizados e vazios. “Não há necessidade de demolir para reconstruir o ambiente. Nós colocamos foco nos imóveis vazios. Eles têm e ser os primeiros lugares onde a operação deve agir”, explica a presidenta da associação de moradores Amoaluz, Paula Ribas.

O projeto prevê prédios com apartamentos de diversas tipologias. Entre eles, alguns que podem abrigar pessoas em situação de rua e outros com características voltadas à classe média. Também se vislumbra a construção de equipamentos com oferta de tratamento para dependentes de crack. “Não adianta pensar moradia só como teto e chão. O projeto Nova Luz original não tem nenhum apontamento na direção de ajudar essas pessoas”, afirma Paula.

Lançado por José Serra em 2005, o Nova Luz foi visto como uma das prioridades da gestão atual e prevê a “revitalização” de áreas dos bairros da Luz, Santa Ifigênia e Campos Elísios, no centro da cidade. O principal argumento para o empreendimento era a necessidade de eliminar a chamada “cracolândia”, alcunha pejorativa usada para determinar as ruas tomadas por dependentes de crack para usarem a droga em via pública. Alguns prédios vazios utilizados como moradia por esses dependentes chegaram a ser demolidos pela própria prefeitura, enquanto serviços públicos como a coleta de lixo e a circulação de linhas de ônibus deixaram de ser oferecidos na região, o que aumentou a deterioração do entorno.

O projeto prevê ainda a utilização de concessões urbanísticas, um mecanismo controverso previsto no Plano Diretor da cidade que permite que o governo municipal transfira para empresas privadas o direito de desapropriar toda a área que receberia investimentos. Temerosos de que o monopólio da compra de seus imóveis provocasse prejuízos aos comerciantes que atuam na região e a expulsão de moradores, associações dos dois grupos impetraram cinco ações judiciais tentando apontar a inconstitucionalidade da operação e erros no processo de elaboração do projeto. Apesar de não terem eliminado os riscos, essas ações, mesmo sem terem sido julgadas, conseguiram adiar a abertura de licitação das obras.

Agora, os moradores esperam que o prefeito eleito Fernando Haddad (PT) cumpra a promessa assumida durante a campanha de rever o projeto, respeitando a opinião das pessoas que já estão no bairro.