Mês de janeiro deve ser o mais chuvoso em 63 anos

Para especialista, estado deveria ter baixado nível de barragens nas primeiras indicações do Inpe de que volume pluviométrico do período, que vai até março, será atípico

Zona leste de São Paulo têm bairros alagados desde dezembro de 2009 (Foto: Suzana Vier/RBA)

O volume de chuvas verificado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) em janeiro deve ser o maior para esse mês desde que o instituto iniciou a medição, em 1943. Na madrugada desta sexta-feira (29) faltavam menos de 7 milímetros de chuvas para superar os 481,4 milímetros apurados na capital paulista em janeiro de 1947. A previsão é que até domingo o recorde será superado.

Ainda segundo o Inmet, desde o início do verão, em 21 de dezembro, só não foram registradas chuvas em dois dias na capital paulista. A medição é realizada no Mirante de Santana, na zona norte. O recorde absoluto, 607,9 milímetros, é de março de 2006.

Irresponsabilidade

O conselheiro da Área de Proteção Ambiental (APA) da Várzea do Tietê,  José Arraes, afirmou que o governo de São Paulo sabia que o estado enfrentaria um verão atípico, de muita chuva. E considerou uma opção das autoridades competentes manter as represas cheias, mesmo com o risco de enchentes.

Para Arraes, a motivação dessa opção seria política – o governo teria optado por não correr o risco de queda no fornecimento de água em ano eleitoral, diante de uma eventual falta de água.

Outro lado

O Departamento de Águas e Energia Elétrica do estado de São Paulo (DAEE) foi procurado, mas não atendeu a reportagem.

O problema teria começado com uma decisão do governador José Serra, em outubro: “É sabido que o verão é o período que mais chove. Todos os anos o DAEE começa a vazar água dessas barragens, visando a receber as águas do verão. Em 2009 isso não foi feito”, denuncia Arraes.

Segundo o conselheiro, somente há 15 dias, foi determinada a abertura das comportas das cinco barragens do rio Tietê, acima da barragem da Penha que fica na capital paulista.

“O verão de São Paulo está sendo atípico, e todo mundo sabia que seria assim. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) havia informado que vai chover muito até março”, enfatiza.

O conselheiro da Apa observa que a gestão das águas é responsabilidade do Departamento de Águas e Energia Elétrica do estado de São Paulo (DAEE). “Se se regulassem todas as barragens com o objetivo de receber as chuvas desse período, não haveria consequências como as que estamos vendo hoje”, considera.

Outro agravante que deveria ser levado em conta pelo DAEE, segundo Arraes, é que a área em que nasce o rio Tietê, próxima à Serra do Mar, é historicamente úmida e chuvosa. “Aqui nas cabeceiras estamos muito próximos da Serra do Mar, da Mata Atlântica e aqui chove muito. Até mesmo as chuvas localizadas devem ser avaliadas pelo governo, atesta o conselheiro, que é morador de Mogi das Cruzes. ” O administrador quando faz uma galeria faz pelo pico hidrológico, sempre preocupado com o máximo. Tudo com base em estudos hidrológicos”, explica.

Capacidade máxima

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Tietê transborda por falta de limpeza da calha, matéria do site “Vi o mundo”.

De acordo com dados de Arraes, as represas na bacia hidrográfica do Alto Tietê estão operando no limite máximo: “Biritiba Mirim está com 94% da capacidade e as outras estão com mais de 90%”.

Entretanto, a barragem da Penha permanece com as comportas fechadas, causando inundações em diversos bairros da capital. “Sobre o fechamento da Penha, entra a força do paulistano, do Kassab. Se essas águas chegam (à cidade)… haja Marginal… invade tudo aquilo lá”, calcula o conselheiro.

Cobrança

O risco de transbordamento das represas da Região Metropolitana de São Paulo levou a Agência Nacional de Água (ANA) a cobrar explicações da Companhia de Saneamento do estado de São Paulo (Sabesp). A agência espera esclarecimentos da empresa paulista sobre o nível dos sistemas Cantareira, Alto Tietê, Guarapiranga, Alto Cotia, Rio Grande e Rio Claro que estão muito acima do normal.

A ANA questionou a Sabesp depois que a prefeitura de Atibaia (SP) culpou a companhia pelos transbordamentos das represas Atibainha e Jacareí/Jaguari, que ocasionaram a cheia do rio Atibaia e a inundação de 15 bairros da cidade. 

Representantes dos dois órgãos devem se reunir em Brasília nesta sexta para discutir as medidas que estão sendo adotadas para evitar transbordamentos.