Filho de Covas se diz constrangido com proposta de mudança de nome do Viaduto do Chá

Vereadores paulistanos esboçam rejeição de projeto de Wadih Mutran, que há doze anos havia tentado homenagear ex-governador alterando nome de uma das principais construções do centro histórico da capital

Mudar o nome de um símbolo da cidade é um desrespeito, diz o vereador Ricardo Young (Foto: Flickr Prezadoe)

São Paulo – Dois projetos apresentados na Câmara de São Paulo propõem mudanças nos nomes oficiais de dois dos principais símbolos da cidade, o Viaduto do Chá e o Elevado Presidente Costa e Silva, mais conhecido como Minhocão.

Um dos projetos, na verdade, foi resgatado do fundo da gaveta do vereador Wadih Mutran (PP), que em 2011 havia proposto alterar o nome do Viaduto do Chá, em frente à sede da prefeitura, para Mário Covas. Segundo Mutran, a ideia agora é homenagear o ex-governador de São Paulo pelos 12 anos de sua morte. 

O projeto que altera o nome do Viaduto do Chá, o primeiro construído na cidade, inaugurado em 1892, recebeu este nome porque havia plantações de chá em um dos lados ligados pela construção, recebeu 45 assinaturas favoráveis, mas já enfrenta resistência entre os próprios parlamentares, que, inicialmente, endossaram a ideia.

Até mesmo o vereador Mário Covas Neto (PSDB), filho do ex-governador, afirma ter ficado “constrangido” com a reapresentação do projeto. “Meu pai não gostaria de mudar o nome de um dos principais símbolos da cidade”, afirmou, acrescentando que o tucano recebeu uma série de homenagens, como a do Rodoanel, estrutura viária que circunda a cidade. 

Para o vereador Ricardo Young (PV), a proposta é um absurdo. “Os vereadores precisam pensar na cidade antes de pensar em seus mandatos. É um desrespeito propor a mudança do nome de um símbolo da cidade”, disse. Segundo ele, os nomes de ruas, praças e monumentos da cidade devem seguir, em primeiro lugar, a denominação pela qual são mais conhecidos pela população, e não a vontade dos políticos, e não devem servir para homenagear pessoas. 

O vereador Gilberto Natalini (PV), que assinou a reapresentação do projeto de Mutran, também afirma ser contra a mudança do nome do viaduto. Segundo ele, é um dos locais mais tradicionais e conhecidos da cidade e não pode ser alterado por iniciativa de projeto de vereador. “Eu sou contra esta mudança”, afirma.

Em 2007, um projeto que alterava o nome do viaduto para Viaduto do Chá Octávio Frias de Oliveira, dono do jornal Folha de S.Paulo, foi apresentado, mas acabou rejeitado.

A outra proposta, do vereador Nabil Bonduki (PT), sugere trocar o nome do elevado para simplesmente Minhocão, como é conhecido na cidade. O elevado foi inaugurado em 1970 pelo então prefeito Paulo Maluf, indicado para assumir o cargo durante a ditadura (1964-1985) que suspendeu as eleições nas capitais estaduais.

Segundo Bonduki, a mudança no nome do elevado tem como objetivo tirar de um dos principais símbolos de São Paulo o nome do general mais linha-dura do regime autoritário, responsável pelo Ato Institucional (AI-5), em 13 de dezembro de 1968, que suspendeu direitos políticos e civis, cassou mandatos de parlamentares e intensificou a repressão e limitou as liberdades de imprensa e de expressão.