Moradores da zona leste de SP denunciam abuso de policiais durante retirada de famílias

São Paulo – Moradores da Chácara Três Meninas, zona leste da capital paulista, acusam policiais militares de ação truculenta e abuso de poder durante retirada de famílias da rua Maria […]

São Paulo – Moradores da Chácara Três Meninas, zona leste da capital paulista, acusam policiais militares de ação truculenta e abuso de poder durante retirada de famílias da rua Maria de Lourdes, às margens do rio Tietê. A investida ocorreu na manhã desta sexta-feira (17). O bairro foi um dos locais atingidos por sucessivas enchentes, na capital paulista, ao longo de dois meses no verão de 2009/2010.

Seis famílias foram retiradas e tiveram suas casas demolidas em uma ação policial que contou com a Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana, Polícia Ambiental, agentes da subprefeitura de São Miguel e empresas terceirizadas que realizam a demolição das casas, informam lideranças do bairro. Duas pessoas também foram presas, acusadas de desacato a autoridade, e um carro foi apreendido durante a operação.

“As pessoas estavam dormindo quando foram surpreendidas pela polícia”, descreve Maria Zélia Andrade, do Movimento Terra Livre. De acordo com moradores ouvidos pela Rede Brasil Atual, um dia antes, na quinta-feira (16), assistentes sociais da prefeitura de São Paulo estiveram no local para propor às famílias que deixassem o local e fossem para um abrigo. As famílias recusaram, mas garantem não ter sido avisadas do despejo com ação policial nesta sexta. 

“O grande problema é que as pessoas não têm para onde ir”, afirma João Vitor Pazesi de Oliveira, estudante de Geografia da Universidade de São Paulo, que realizava pesquisa acadêmica no bairro durante a operação policial. Ele testemunhou a ação.

“Encontramos uma situação de truculência”, diz Oliveira. “Policiais imobilizaram um homem e depois que ele já estava com as mãos para trás, apertavam a garganta. Por fim, empurraram em direção a uma parede”, descreve o estudante.

A manhã no bairro foi de desespero, avalia Oliveira. “Para garantir o protocolo ambiental, o governo submete o sujeito a uma desproteção”, analisa. “Não vieram policiais mulheres nem assistentes sociais, só truculência”, reclama Zélia.

Remoção de famílias que possuem crianças e mulheres precisa ser realizada com o apoio do Conselho Tutelar, policiais femininas e assistentes sociais, mas nesta sexta foi basicamente de ação policial. “O processo de remoção de famílias envolve aparato estatal. Hoje não foi assim, destruíram a casa de uma mulher com uma filha de um mês”, relata. “E eles não destruíram casas de papelão, eram de material e significavam o investimento dessas famílias”, aponta.

Ele acredita que as remoções continuarão porque as famílias estão em áreas irregulares, mas condena a forma truculenta durante a ação de retirada, além da falta de opção para as famílias. “Normalmente as pessoas não aceitam abrigo, porque têm famílias e lá só podem pernoitar. Depois fazem o quê com a família?”, contextualiza Oliveira.

O estudante também considera crítica a forma como empresas terceirizadas estão realizando a demolição das casas. “Se há três casas e moradores das extremidades decidem deixar as casas, eles vão e destróem a residência que estava no meio também”, indica. Zélia explica que outra tática é destruir casas ao redor e acabar com a estrutura da residência de quem não aceita deixar o local alvo de desapropriação da Prefeitura.

Procurada, a subprefeitura de São Miguel Paulista não respondeu aos questionamentos da reportagem até às 18h30 desta sexta. A Polícia Militar também foi questionada mas tampouco  foram prestadas informações.

Retorno

Em seu estudo sobre as regiões que sofreram enchentes em São Paulo, Oliveira notou que há um movimento de retorno de famílias a áreas de risco, que já haviam sido retiradas. A situação estaria ocorrendo por corte no bolsa-aluguel de R$ 300 oferecido pela prefeitura ou por dificuldade de encontrar um local para morar com o valor repassado.

“O bolsa-aluguel criou uma miniespeculação imobiliária e causou aumento dos alugueis na região (do Jardim Pantanal). Outro problema são as restrições, famílias com filhos em geral não são aceitas”, diz Oliveira.

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