Eletricista que ganhou exame no Dia dos Pais ainda não conseguiu tratamento em São Paulo

Wilson Teixeira espera há cinco meses por um diagnóstico na rede pública (Foto: Danilo Campos) São Paulo – No fim de agosto, a reportagem da Rede Brasil Atual esteve no […]

Wilson Teixeira espera há cinco meses por um diagnóstico na rede pública (Foto: Danilo Campos)

São Paulo – No fim de agosto, a reportagem da Rede Brasil Atual esteve no Grajaú, extremo sul da capital, conversando com a população sobre a situação dos serviços da saúde na região. Lá conhecemos o eletricista Wilson Teixeira, de 57 anos, que estava tentando obter um diagnóstico para as dores que sente no joelho e que o impossibilitam de trabalhar. E hoje descobrimos que ele ainda não conseguiu finalizar sua sina por atendimento médico. Mesmo tendo feito o exame pela rede privada, ele não conseguiu uma consulta para avaliação do material e iniciar um tratamento.

Sofrendo de fortes dores no joelho, desde maio, Teixeira procurou atendimento na UBS Parque Residencial Cocaia Independente, onde foi orientado a realizar ressonância magnética no joelho. Porém, não conseguiu agendar o exame na rede pública. Preocupado, pediu aos filhos que lhe pagassem o exame como presente do dia dos pais. Por ser um exame caro, ele foi orientado por uma amiga a fazer uma tomografia. “Pela ressonância dá pra ver cem por cento, a tomografia, só setenta por cento, mas custa 150 reais. E já dá para fazer o diagnóstico”, afirmou na época.

O eletricista conseguiu fazer o exame, mas, até o fim de agosto, não conseguia agendar uma consulta para avaliá-lo. Nem para começar um tratamento. Finalmente, na última segunda-feira (1), após uma intervenção de uma conselheira gestora de saúde da região, ele foi atendido por um médico na AMA-Especialidades Jardim Icaraí. No entanto, segundo Teixeira, o médico afirmou que a tomografia não servia para o diagnóstico e se recusou a analisar o exame.

“Ele me deu um novo encaminhamento para ressonância, me mandou falar com a assistente social da unidade, mas ela disse que não tinha agendamento disponível. Me mandou para casa e disse que ligaria quando tivesse vaga”, disse Teixeira.

O eletricista afirma que nesses cinco meses, ele já tentou o exame na emergência dos hospitais Grajaú, Campo Limpo, Pedreira, Regional Sul e Glória, que fica na Liberdade, região central de São Paulo. Além das várias idas às UBS Gaivotas e Parque Residencial Cocaia Independente. Tudo em vão. “Faz cinco meses que estou nessa condição. Nesse tempo todo tenho tomado remédio por minha conta para aliviar as dores. Não faço ideia do que tenho e nem do que posso fazer. Já chorei de raiva desse descaso”, desabafou.

A situação de Teixeira não é um caso isolado. A dona de casa Neuza Pedroso, de 67 anos, percebeu há dois meses que tinha umas “bolinhas” doloridas no braço esquerdo. O médico que visita a casa dela pelo Programa Saúde da Família a orientou a fazer exame de raios-X. No entanto, não foi agendado para o AMA Jardim Myrna, mais próximo à casa dela, e sim para uma unidade em Santo Amaro.

“Quando cheguei lá disseram que o aparelho estava quebrado. Voltei na AMA e queriam me dar outro encaminhamento, que podia ser para a Vila Constância, na região da Cupecê, ou para o Campo Limpo. Eu não aguento ficar pegando ônibus lotado, indo para lá e para cá. Agora já reduziu bastante as bolinhas, então vou esperar passar sozinho”, disse Neuza. Ela mora no Grajaú e teria de se deslocar por quase duas horas de ônibus para chegar em qualquer destes locais.

No fim de setembro, a Rede Brasil Atual já havia denunciado o remanejamento de verbas na Secretaria de Saúde do município, em que foram retirados mais de R$ 158 milhões da realização de diagnósticos e atendimento ambulatorial. Este dinheiro foi destinado para outras ações como a implementação e manutenção de AMAs, operação do programa Mãe Paulistana e operação e manutenção de atendimento hospitalar realizado por Organizações Sociais de Saúde. Estes programas são usados como bandeiras da gestão Kassab e da campanha de Serra.

Na semana passada, o eletricista conseguiu um pequeno alívio. O médico da perícia do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) avaliou a tomografia e lhe concedeu licença médica até o dia 2 de dezembro. Porém, afirmou que para um diagnóstico adequado ele necessita da ressonância. “Pelo menos consegui a licença médica. Estava muito preocupado, pois ia continuar doente e sem dinheiro. Com a licença posso, ao menos, continuar na luta para conseguir o diagnóstico e me tratar. Preciso voltar a trabalhar”, disse Teixeira.