Para arquiteta, operação urbana em São Paulo beneficia apenas mercado imobiliário

Projeto de lei, herdado da gestão Kassab, deve ser objeto de audiência pública no próximo mês

Política de operação urbana na cidade de São Paulo estariam beneficiando o mercado imobiliário e não a sociedade (Foto:Mateus Hidalgo/CC)

São Paulo – A arquiteta urbanista Lucila Lacreta, diretora do Movimento Defenda São Paulo, definiu como “temeridade” o Projeto de Lei (PL) 505/2012, que revisa a Operação Urbana Água Branca, zona oeste da cidade, aprovado na Câmara dos Vereadores em primeira votação na última quarta-feira (10). Para ela, o texto não atende ao interesse social nem urbanístico. “Somente vai se agraciar o mercado imobiliário com benesses”, afirmou. Para o vereador Nabil Bonduki (PT), o projeto precisa ser discutido com a sociedade antes de ir à segunda votação.

O projeto de revisão é uma herança da gestão de Gilberto Kassab (PSD). Dentre as alterações relevantes estão o aumento do estoque de potencial construtivo da região para 1,05 milhão de metros quadrados, em imóveis residenciais, e 800 mil, para os não-residenciais. Esse estoque compreende o quanto se pode construir em relação ao tamanho da área. No geral, a capital tem um limite de construção até quatro vezes o tamanho do terreno, mas isso varia de acordo com a região da cidade.

Algumas mudanças foram apontadas por Lucila como problemáticas. Uma delas é que não serão mais computadas como “área construída” os espaços comuns dos edifícios, como terraços e locais de circulação de pessoas, apesar da ampliação do estoque construtivo. 

“Essa operação é uma verdadeira temeridade. Além da área adicionada, será descontado como área computável, por exemplo, a área de circulação dos andares dos prédios. Não sabemos, portanto, qual vai ser a ampliação dessa operação urbana. Não são só 1 milhão e 800 mil metros, é muito mais”, critica.

Bonduki avalia que o projeto possui avanços que devem ser levados em consideração, como a limitação do número de vagas em garagens e a garantia de permeabilidade do solo. Além disso, o vereador defende que sejam destinadas mais áreas para construção residencial. “Eu tenderia a aumentar o estoque residencial, porque a região central já conta com bastante emprego, mas ainda tem poucas moradias. Precisamos equilibrar, mas para isso é preciso discutir o projeto”, disse. Segundo o vereador, o projeto deve ser objeto de audiência pública no próximo mês.

Outra alteração diz respeito ao valor dos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepac), que, de acordo com o projeto, é de no mínimo R$ 700 para imóveis residenciais e R$ 800 para não-residenciais. O Cepac é um título da prefeitura, utilizado como contrapartida para permitir a ampliação da área construída dentro de uma operação urbana, equivalente a um determinado valor por metro quadrado. O total arrecadado deve ser utilizado em obras de melhoria na região da operação. Os valores atuais são os mesmos definidos em 2010 para a Operação Urbana Água Espraiada.

Para Lucila, o valor está muito abaixo do praticado no mercado, o que contraria o intuito da operação. “O mercado cobra cerca de R$ 10 mil por metro quadrado de um apartamento. Isso é uma benesse para os investidores, sem a devida contrapartida para a população, o que se distancia do objetivo da ação.”

“Operação urbana seria fazer melhorias em uma determinada região, visando o bem-estar de todos”, acrescenta. “E esse adicional você cobra para reverter em obras, para o local ficar melhor. Mas se você desconta uma série de áreas desse pagamento e joga o preço lá embaixo, não há interesse social nem urbanístico. É só agraciar o mercado imobiliário.”