‘Mídia levantou falsa prioridade sobre arrastão’, diz ex-secretário nacional de segurança

São Paulo – O fato da onda de arrastões a bares e restaurantes de São Paulo atingir bairros nobres da cidade faz com que a mídia trate o problema como […]

São Paulo – O fato da onda de arrastões a bares e restaurantes de São Paulo atingir bairros nobres da cidade faz com que a mídia trate o problema como a principal prioridade para a segurança pública paulista, segundo o ex-secretário nacional de segurança pública coronel José Vicente da Silva. “Foram 27 arrastões de janeiro até agora e isso é quase nada no conjunto de assaltos da cidade, que somam 500 por dia”, disse.

Na semana (passada) em que a cidade registrou o 27º arrastão, o governador do estado, Geraldo Alckmin (PSDB), lançou um programa para tentar conter o problema: o Vizinhança Solidária. A ideia é que os moradores dos bairros atingidos sejam cadastrados pela Polícia Militar e possam acioná-la caso percebam alguma atitude suspeita, invertendo o padrão de a própria vítima chamar a polícia.

“Não é uma medida eficiente, pois os criminosos têm preferido assaltar restaurantes mais isolados”, avalia o coronel. Confira a entrevista completa:

O programa Vizinhança Solidária pode ser eficiente para ajudar no combate à onda de arrastões em bares e restaurantes?

Não. Você pode ter facilidade de fazer esse tipo de operação em bairros como a Vila Madalena ou Itaim Bibi, onde tem bares nas proximidades. Mas os criminosos são muito adaptáveis em suas ações e por isso têm preferido assaltar restaurantes mais isolados. Nos casos ocorridos em Higienópolis, por exemplo, a Pizzaria Braz [um dos restaurantes assaltados] era praticamente o único estabelecimento comercial da rua. Só na outra ponta que tinha outro restaurante, o Carlota [também assaltado].

Eles entram normalmente, entre onze horas e meia-noite, quando já há menos movimento. Ou seja, os arrastões não vão ocorrer no Dia dos Namorados ou nos horários mais cedo porque isso é complicado para a operação dos criminosos.

O que pode resolver o problema?

O que reduz esse modismo criminoso é uma eficiente ação da polícia, que já vem acontecendo. Isso desmotiva os criminosos a continuarem com os assaltos, porque a polícia está de olho. O arrombamento de caixas eletrônicos, por exemplo, caiu 60% desde que a polícia reforçou a operação.

Qual a maior dificuldade para a polícia nesses casos?

A quantidade. Foram 27 arrastões de janeiro até agora e isso é quase nada no conjunto de assaltos da cidade, que soma 500 por dia. Só roubos de carro são 120 diariamente e no caso dos arrastões é um por semana. Para a polícia é muito difícil fazer um trabalho de prevenção com um número baixo de ocorrências.

Os arrastões ganharam mais repercussão por ocorrer em bairros nobres da cidade?

Claro. Toda vez que um crime atinge a classe média ou média alta a repercussão é desproporcionalmente maior do que se atinge os mercadinhos que são assaltados na periferia. A mídia levantou uma falsa prioridade em relação ao arrastão nos restaurantes, como já aconteceu no passado em shoppings e condomínios. Dentro da realidade criminal de São Paulo, mais da metade dos postos de combustível são assaltados todo ano e isso não saiu no jornal. Se de janeiro até aqui tivemos 27 arrastões, nós também já tivemos 80 mil assaltos, 20 mil carros furtados e pelo menos 400 assaltos a postos de combustíveis, mas isso não repercute na mídia.