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Sabesp entrega pela metade obra no ABC paulista contra a crise hídrica

Intervenções no rio Pequeno, braço que deverá reforçar o Rio Grande, ainda não foram finalizadas

Andris Bovo / ABCD Maior

Obras no Rio Pequeno começaram em julho e têm previsão de ser concluídas em 180 dias a partir do início

ABCD MaiorAo anunciar que o sistema Rio Grande, na represa Billings, iria socorrer o sistema Alto Tietê e assim evitar um rodízio mais rígido de abastecimento na Grande São Paulo, o governo Alckmin garantiu que o bombeamento previsto, de 4 metros cúbicos por segundo, não teria impacto sobre o abastecimento do ABC paulista, porque a água para o Alto Tietê seria retirada diretamente do Rio Pequeno, outro braço da represa Billings, que até então não era usado no abastecimento público. O problema é que, a partir de amanhã (30), a Sabesp começará a enviar a água do Rio Grande para o Alto Tietê, mesmo sem a obra do Rio Pequeno estar pronta.

“O palpite é que desde o começo não seria possível entregar as duas obras juntas. Até porque eles não estavam preocupados com o Rio Pequeno e foram adiando o início por lá”, comentou Ricardo Guterman, sociólogo e assessor técnico em Meio Ambiente para a liderança do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo. Conforme as placas de sinalização das obras colocadas ao longo das intervenções, os serviços para transpor as águas do Rio Pequeno para o Rio Grande, no trecho de São Bernardo, foram iniciados em 6 de julho, com estimativa de 180 dias para ser finalizados.

Sem o reforço do Rio Pequeno, especialistas estimam que o braço do Rio Grande possa secar em cerca de seis meses ao abastecer São Bernardo, Diadema, metade de Santo André e encaminhar os 4 mil litros por segundo para o Alto Tietê. “O braço do Rio Grande tem capacidade de recarga de 5,5 metros cúbicos por segundo, o que já é usado na estação de tratamento para abastecer o ABCD. Não sobra nada. O que vai para o Alto Tietê deveria vir do Rio Pequeno”, explicou Guterman.

Além do risco de secar, como aconteceu aos sistemas Cantareira e Alto Tietê, a decisão do governo do estado de iniciar o bombeamento da Billings para o Taiaçupeba com a obra emergencial incompleta pode acarretar na piora da qualidade da água que abastece a população. Isso porque no fundo do braço Rio Grande repousam metais pesados e a contaminação por Poluente Orgânico Persistente (POP), considerados os poluentes mais tóxicos do mundo. Os POPs, lançados pela empresa Solvay Indulpa, resistem à decomposição ambiental, ao tempo, e o local de depósito não pode ser descontaminado.

Sem data

Os operários que trabalham na interligação dos dois braços da represa Billings não souberam dizer quanto tempo levarão para finalizar o trabalho. A interligação é feita por canal e túneis: um que passa embaixo da estrada Ribeirão Pires e outro que passará embaixo do km 35,8 da rodovia Índio Tibiriçá. Atualmente, os trabalhos estão centrados nos túneis. No trecho que passará por baixo da rodovia já havia dois túneis, mas um terceiro está sendo escavado para aumentar a vazão da água.

Procurada pela reportagem, a Sabesp não informou quando deverá entregar a obra de interligação dos dois braços da Billings, apenas confirmou que iniciará a operação da interligação Rio Grande/Alto Tietê amanhã.

Em nota, a companhia ainda explicou que o bombeamento será realizado durante 24 horas, dependendo das condições da represa. E assegurou que será realizado um controle automatizado dos níveis dos rios, tanto na captação como na descarga.

‘Rito especial’

No dia em que a Sabesp iniciará o bombeamento das águas do Rio Grande para o Alto Tietê, amanhã, os membros do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) se reunirão para votar se aprovam ou não o ‘rito especial’ para a análise dos pedidos de licenciamento ambiental das obras que irão reforçar o sistema Alto Tietê, usado para socorrer regiões antes abastecidas pelo sistema Cantareira. Entre as obras está a da Billings, que, apesar de em andamento, não tem Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) e é investigada pelo Ministério Público.

Para especialistas, a expectativa é que o documento seja aprovado pelo Consema porque, dos 36 conselheiros, 18 trabalham para o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Outros 12 são de entidade de classe, associações e universidades, e seis ambientalistas.

O que os ambientalistas criticam é o fato de a resolução 01/1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) exigir Estudos de Impacto Ambiental das obras de transposição de bacias hidrográficas. “Alckmin passou por cima de todas as leis ambientais, e sem declarar o estado de emergência. Isso nos faz questionar a real necessidade dessas obras. Nenhuma delas é emergencial. O projeto de todas já existia e as obras deveriam ter sido realizadas antes da crise”, afirmou Hamilton Rocha, membro do coletivo Luta pela Água.