emprego e renda

Agroecologia urbana é alternativa de trabalho em São Bernardo

Potencial de crescimento da produção agrícola já mobiliza o poder público para explorar mais essa oportunidade de negócios

Agricultura familiar orgânica pode contribuir com a preservação da biosfera porque exige manutenção de áreas verdes

São Bernardo – Criar emprego e proporcionar renda a partir da produção agrícola em pequenas áreas urbanas e ao mesmo tempo dar ao consumidor final a opção de adquirir alimentos saudáveis e sem agrotóxicos. Esse foi o tema do debate realizado ontem (5), em São Bernardo do Campo, cidade do ABC paulista. Para os participantes do evento, a agroecologia, urbana ou não, é uma forma alternativa viável de substituir o modelo atual do agronegócio.

De acordo com o coordenador da APA (Articulação Paulista de Agroecologia), Pedro Kawamura, 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros são provenientes da agricultura familiar. Considerando o mercado agrícola como um todo – inclusive culturas para outros fins – o peso percentual é de 40%. “Mas a agricultura familiar ocupa apenas 25% das terras e conta com menos de 15% do crédito rural”, afirmou.

Esses dados, no entanto, referem-se principalmente às famílias que vivem em propriedades rurais. A produção agrícola em concentrações urbanas como as cidades do chamado ABCD (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema) ainda não pode ser mensurada porque é dispersa e completamente informal. Mas seu potencial de crescimento já mobiliza o poder público para explorar mais essa oportunidade de negócios.

Um exemplo é o Programa de Fomento às Hortas Urbanas de São Bernardo, que ocupa seis áreas distintas do município e proporciona emprego e renda para 18 famílias, todas assistidas pela SBCSol, incubadora de empreendimentos econômicos solidários criada a partir de parceira entre a prefeitura e a Umesp (Universidade Metodista de São Paulo).

O diretor de Empreendedorismo, Trabalho e Renda de São Bernardo, Nilton Tadashi, explica que o projeto aproveita áreas ociosas da cidade e que o rendimento mensal médio dos agricultores é de um salário mínimo e meio. O objetivo é ampliar o programa. “É um processo complexo, que exige preparo e mudanças legais para que a agricultura urbana seja reconhecida  e tenha acesso a crédito. Mas há muitos espaços espalhados pela cidade que poderiam ser aproveitados”, disse Tadashi.

Vanderléa Pereira, coordenadora do Núcleo Técnico da SBCSol, revela que o projeto recebeu R$ 2 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, empresa pública vinculada ao Ministério da Comunicação, Tecnologia e Inovação) e terá duração de dois anos. “Estamos em fase de diagnóstico de viabilidade, pois não basta produzir, é necessário haver mercado”, conta.

Popularizar

Para o assessor de Meio Ambiente da Secretaria de Educação de São Bernardo Gustavo Cherubine é preciso ‘desmistificar’ o preço do produto orgânico. Hoje o valor de venda ao consumidor é proibitivo para a maioria das pessoas. “O produto orgânico é exportado para os países ricos, que nos vendem os agrotóxicos usados nos alimentos que ingerimos. Isso não está certo”.

A deputada estadual Ana do Carmo, coordenadora da Frente Parlamentar pela Agricultura Orgânica, disse que outros eventos como esse serão realizados em diversas cidades. “Nossa estratégia  é debater esse e outros temas pertinentes para conscientizar as pessoas sobre a importância da agroecologia. Falta incentivo do poder público e a população não reivindica porque não sabe do que se trata”.

Biosfera

A agricultura familiar orgânica pode contribuir com a preservação da biosfera porque ela exige a manutenção de áreas verdes. “É um sistema que  necessita do manejo adequado da terra e manutenção da mata nativa no entorno”, afirma a Pesquisadora científica do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Yara Maria Chagas.

E apesar de não usar técnicas industriais, a agricultura orgânica pode ser tão produtiva quanto o modelo tradicional. Embora necessite de mais mão de obra, o orgânico economiza de 30% a 40% em insumos.