Concentração de serviços em delegacias de SP começa amanhã; policiais criticam

A partir desta quarta-feira, delegacias da capital paulista registrarão todas as ocorrências entre 8h e 20h, e 27 centrais de flagrante serão responsáveis pelo serviço durante a noite

São Paulo – Representantes dos delegados de Polícia Civil do estado de São Paulo classificaram como “desvio de foco” as medidas oficializadas hoje (2) pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) que estendem às 93 delegacias de polícia da capital o atendimento a qualquer tipo de ocorrência. Desde agosto de 2011, somente onze delegacias podiam receber ocorrências de flagrante e termos circunstanciados, relato simplificado de crime de menos potencial ofensivo, sendo as outras destinadas somente a crimes considerados menores, como furtos e perdas de documentos.

O diretor do Departamento de Polícia Judiciária da capital, Domingos Paulo Neto, informou que a nova proposta começa a vigorar amanhã (3). Todos os distritos policiais passarão a registrar todo o tipo de ocorrências, das 8h às 20h. Após esse horário, 27 centrais de flagrante funcionarão durante a noite, até 8h do dia seguinte. Essas mesmas unidades funcionarão 24 horas nos fins de semana e feriados. Com isso ocorrerá um aumento dos índices de esclarecimento de crimes e melhora no atendimento à população, na visão do governo estadual.

Questionado se a mudança foi realizada em virtude de o modelo anterior apresentar problemas, Alckmin afirmou que as mudanças são apenas gerenciais. “O objetivo desta reforma é melhorar a investigação, o esclarecimento dos casos e o atendimento a quem mais precisa do serviço de segurança pública. O modelo estava funcionando, tanto é que nós mantivemos as centrais de flagrante. Mas gestão tem que estar sempre sendo aperfeiçoada”, disse. O governador afirmou que dentro de três semanas haverão mais 135 delegados no estado, sendo 40 deles na capital.

Dentre os presentes ao anúncio, feito em uma universidade na zona oeste da cidade, estavam o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, o Delegado-Geral da Polícia Civil, Luiz Maurício Blazeck, e o Comandante-Geral da Polícia Militar, coronel Benedito Roberto Meira.

Em 2011 a secretaria já havia modificado o funcionamento das delegacias, criando oito centrais de flagrante, posteriormente ampliadas para onze, que fariam os registros de delito em flagrante e termo circunstanciado. As demais delegacias, cerca de 80 na época, faziam somente registro de queixas de menor potencial ofensivo, como furtos e perdas de documentos. À época essa divisão foi defendida para melhorar o atendimento ao público e dinamizar a elaboração de boletins de ocorrência. Em outubro do ano passado a SSP divulgou pesquisa informando que 85% da população ouvida aprovava o modelo.

Para a presidenta da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, Marilda Pansonato, a proposta é um paliativo que não ataca o verdadeiro problema. “É provável que melhore a condição da população que busca atendimento, mas a questão é falta de investimento no policial, falta de estrutura para desenvolver uma boa investigação. Precisamos de mais policiais. Inclusive, temo que esse retorno das funções gerais à todas as delegacias precarize ainda mais a condição dos profissionais”, avalia.

Para o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, George Melão, essa ação nada mais é que uma retomada do que havia anteriormente. “Apesar do pequeno avanço que tem essa medida, ela nada mais é do que a delegacia realizando todas as suas funções plenamente. Os delegados que estavam fora das Centrais de Flagrante estavam sendo subutilizados, pois não cumpriam atribuições que exigissem investigação e outras ações da polícia judiciária”, explica.

Segundo Melão, a solução é outra. “Temos um déficit de pelo 500 profissionais no estado. Além disso, existe uma péssima distribuição de delegados, com delegacias instaladas em locais de pouca necessidade e outros locais em que os profissionais penam para realizar todos os atedimentos”, explica Melão.