Plano para SP lançado por Kassab é ‘peça de pressão política’, afirma entidade

Defenda São Paulo faz parte de conselho do plano, mas não foi convidado para seu lançamento, ontem (14), a 47 dias do fim da atual gestão. Elaboração do 'SP 2040' custou R$ 3 mi

São Paulo – Às vésperas de deixar a prefeitura São Paulo, Gilberto Kassab (PSD) lançou ontem (14) um plano estratégico para a cidade para os próximos 28 anos. Considerado por ele um de seus principais “legados”, o “SP 2040 – A Cidade que Queremos” foi elaborado em parceria com a Universidade de São Paulo ao custo de R$ 3 milhões. O documento reúne diagnósticos sobre problemas e propõe medidas com a pretensão de servir como orientador das próximas sete gestões municipais para a construção da cidade que, segundo a administração Kassab, a população quer. O plano teria contado com a participação de 25 mil pessoas. 

No entanto, para Lucila Lacreta, diretora do Defenda São Paulo, entidade que reúne associações de bairro e que oficialmente faz parte do conselho consultivo do plano, o SP 2040 pretende intensificar o processo de verticalização da cidade e servirá como “peça de pressão política” do PSD e do setor imobiliário para as próximas gestões. “Esse é mais um plano imobiliário. O Defenda foi usado para legitimar uma farsa. A prova é que nem fomos convidados para o lançamento”, afirma Lucila. “A nossa participação no conselho foi para forjar a farsa de que a sociedade foi convidada. Mas os protagonistas foram o pessoal da construção civil.” As acusações de manobra no processo de elaboração do plano já haviam sido denunciados à RBA pelo Defenda.

O conselho consultivo é formado por 22 entidades, a maioria ligada ao setor de construção e imobiliário. Durante o evento de lançamento, José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), representou os conselheiros. 

Miguel Bucalem, secretário do Desenvolvimento Urbano, pasta responsável pela elaboração do plano, afirma que há várias “coincidências” entre as propostas do SP 2040 e do Arco do Futuro, plano de governo apresentado durante a campanha do futuro prefeito, Fernando Haddad (PT). “Esse é um plano que busca consensos e já há muita maturidade na cidade sobre quais são os grandes desequilíbrios e quais são as formas de superá-los. Então, não digo que são coincidências. É um diagnóstico que tem pontos em comum”, justificou Bucalem. Para atingir a todos os objetivos do plano, que podem ser acompanhados no site SP 2040, seria necessário investir R$ 314 bilhões.

Bucalem apontou como grandes méritos do plano a articulação de toda a estratégia de desenvolvimento urbano e a criação de uma peça de referência para os paulistanos. “Se a população souber muito bem quais estratégias estão sendo usadas para superar os problemas que ela sente no dia a dia, vai estar muito habilitada a cobrar e abalizar sempre as ações do poder público.”

Lucila afirma que o projeto já foi apresentado pronto e classifica o aclamado processo de participação popular como “ficção”. “As pessoas eram paradas na rua, enquanto iam apressadas ao trabalho. Obviamente elas não tinham como se concentrar”, reclama. Sobre os questionários respondidos pela internet, ela afirma ter havido direcionamento nas questões de múltipla escolha. “Tudo feito para que as respostas legitimassem o que eles queriam e já tinham pronto.”

A ativista acredita que, por não ter tido de fato a participação popular, o SP 2040 tem poucas chances de ser posto em prática. Medidas propostas como a implementação da concessão urbanística na Nova Luz enfrentam forte resistência de moradores e comerciantes do bairro. Além disso, Haddad já afirmou que vai modificar o projeto para o bairro central.

“Fica clara a improbidade administrativa em função do alto custo do plano, que só servirá como pressão política. O mercado imobiliário está achando ótimo e vai pressionar as próximas gestões”, acredita. 

Fernando de Mello Franco, indicado por Haddad para ocupar em sua gestão a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, esteve presente no evento, mas não quis se pronunciar sobre seu conteúdo.