Moradores de Itaquera denunciam exclusão social em obras da Copa em SP

As denúncias contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e a cúpula da Fifa aumentaram ainda mais a desconfiança em relação ao Mundial de 2014 (Foto: Levi Bianco/News Free/Folhapress) São […]

As denúncias contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e a cúpula da Fifa aumentaram ainda mais a desconfiança em relação ao Mundial de 2014 (Foto: Levi Bianco/News Free/Folhapress)

São Paulo – Militantes de movimentos sociais e moradores da região de Itaquera, zona leste de São Paulo, protestaram neste sábado (30) contra o uso de recursos públicos em obras da Copa de 2014. A manifestação ocorreu em frente à estação Corinthians-Itaquera do Metrô. “Somos contra o repasse de recursos públicos para obra privada”, afirmou Raimundo Bonfim, coordenador estadual do Centro de Movimentos Sociais e integrante do Comitê Popular da Copa.

“Vamos ter mais ou menos R$ 900 milhões investidos nessa obra e quase todo o valor vindo de recursos públicos. Quanto a empresa Corinthians vai investir?”, questiona o ativista. Em 2007, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, havia assegurado que não seria necessário haver verbas do Estado em um torneio organizado por sua entidade, privada. 

O estádio Itaquerão, no entanto, veio se transformando no exemplo mais consolidado de mudança na postura. A construção, feita por Odebrecht e Corinthians, terá em torno de R$ 400 milhões em empréstimos do BNDES, o banco federal de fomento ao desenvolvimento, R$ 420 milhões em renúncia fiscal da prefeitura de São Paulo e outros R$ 70 milhões do governo estadual apenas para a partida de abertura.

Apesar do tempo fechado e de garoa em parte da manhã, a manifestação reuniu 300 pessoas. Os moradores alegam que a construção do Itaquerão, futuro estádio do Corinthians, mal começou, mas já causa exclusão social e especulação imobiliária na região. O metro quadrado no bairro pulou de R$ 80 para R$ 250, diz Antonio Timóteo de Andrade, há 30 anos em Itaquera.

Durante as manifestações, os ativistas destacaram apoio ao estádio e aos torcedores do Corinthians, mas demonstraram contrariedade às remoções forçadas de aproximadamente 500 famílias, numa estimativa inicial dos próprios líderes comunitários. 

A construção do estádio não deve exigir a retirada de moradores, mas a construção de acessos viários, como a interligação da avenida Jacu-Pêssego à Radial Leste, o que vai acabar com diversas comunidades, informou Clodoaldo Rocha Oliveira, morador do Jardim Vila Nova,  que deve ser atingido.

José Aparecido Andrade, líder comunitário da região, avalia que a falta diálogo do poder público, do Corinthians e da construtora com a população, aumenta a insegurança de quem mora na área próxima ao Itaquerão. “Tem um sentimento de revolta entre as pessoas. Só nos disseram que vai haver remoções, mas para onde ninguém diz”, expõe.

Segundo Andrade, algumas famílias já teriam sido avisadas pela prefeitura da necessidade de deixar suas casas. “Com indenização de R$ 5.000 ou aluguel social de R$ 300 ninguém consegue viver em São Paulo”, critica. “Despejos deveriam ser abominados no mundo todo.”

Expulsão

Os ativistas reclamam que as construções da Copa vão se juntar a outras obras da Prefeitura que têm provocado a expulsão da população mais carente para cidades da região metropolitana. “As pessoas acabam indo para Itaquaquecetuba. Para lugares sem escolas, nenhuma infraestrutura para viver”, denuncia. “É um absurdo termos nessa área um milhão de pessoas desprovidas de serviços públicos e nenhuma ação do poder público.” 

Mateus Novais, da Associação Nacional de Torcedores e Torcedoras, apoia o movimento  de moradores e aproveitou para criticar a “elitização do futebol”. “No estádio do Maracanã, no Rio, a cada reforma somem com mais assentos e a arquibancada geral desapareceu”, ilustra. 

O militante defende arquibancadas gerais e ingressos mais baratos para garantir participação popular na Copa de 2014. “O futebol é um patrimônio cultural do povo brasileiro”, aponta.

O protesto terminou no início da tarde com uma caminhada até o terreno do futuro estádio, que passa por terraplenagem.

Neste sábado também ocorre, na Marina da Glória, no Rio, o sorteio das chaves para o Mundial de futebol, sediado em 12 capitais brasileiras. Manifestações contra remoções forçadas e obras irregulares também estão programadas na  capital fluminense.