Beltrame promete punir ‘desvios’ de policiais, mas ressalta ‘libertação’ de favelas ocupadas

Beltrame diante de armas e drogas apreendidas no Complexo do Alemão nesta terça-feira (Foto: Marcelo Horn/Divulgação) São Paulo – O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano […]

Beltrame diante de armas e drogas apreendidas no Complexo do Alemão nesta terça-feira (Foto: Marcelo Horn/Divulgação)

São Paulo – O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, promete punição para eventuais desvios de conduta de policiais durante a ocupação das favelas de Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão na semana passada. A declaração foi feita em entrevista via Twitcam na tarde desta terça-feira (30).

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“Estamos fechando quatro anos (de gestão). Beiramos mil policiais colocados na rua (demitidos). Punir não é problema, a gente fez e vem fazendo há muito tempo”, indicou Beltrame. “Mas o mais importante é a libertação dessas pessoas. Tem de combater o policial que desviou, mas o ganho para as quase 4 mil pessoas existe e é muito grande. A gente não pode começar a valorizar outras coisas e deixar para trás a conquista que a população teve”, ponderou.

Desde a segunda-feira (30), moradores acusam prejuízos provocados por policiais nas operações. Eletrodomésticos destruídos, desaparecimento de bens e de dinheiro, invasão de domicílios e outras condutas consideradas ilegais ou abusivas pelos moradores foram noticiadas pela mídia.

Beltrame destacou ainda a decisão de instalar caminhões da Defensoria Pública para que a população prejudicada por ações abusivas faça denúncias. A posição da Secretaria é de separar acusações levianas dos casos de excessos ou erros efetivos para garantir a punição.

A entrevista foi interrompida por duas vezes, para que Beltrame atendesse a um telefonema do governador Sérgio Cabral. Ao retomar da primeira delas, ele recusou-se a explicar sobre o que tratava a conversa com Cabral. “Isso você vai saber em dois ou três dias”, esquivou-se. A segunda intervenção marcou o fim da sessão.

Estado e polícia

“Gostaria muito de que acontecesse trabalho social que dê perspectiva para a juventude”, defendeu Beltrame. “As dívidas que o estado tem com o povo, que foi reprimido, também devem ser pagas. A questão da segurança já está sendo trabalhada, mas existem várias outras questões para serem resolvidas”, sustentou.

Entre essas questões, o secretário destacou a preocupação com o aumento salarial dos policiais. “Para o próximo governo já existe plano de 70% aumento. Não é melhor dos mundos, mas é o aceno mais concreto para que a questão do piso do policial seja o mais acertado”, alegou. Para ele, esse fator tende a ser decisivo para a política de segurança.

Na pilha

Questionado se estava cansado após dez dias intensos, considerando-se o início dos incêndios no dia 21, Beltrame disse ter mantido-se “pilhado”. “A gente, incluindo a equipe, ficou na pilha, continuou na pilha e tentamos continuar na pilha para manter o foco desde 2007”, disse.

Ele contou o processo de investigação que levou à decisão de ocupar a Vila Cruzeiro. Apenas na metade da semana passada é que as frentes de inteligência da polícia identificaram que as ordens para incêndios de veículos no Rio partiam do local. “Decidimos avançar”, explicou.

“No planejamento, (a ocupação da Vila Cruzeiro) seria para daqui 14 ou 15 meses, mas a gente teve de mudar a cronologia. Tivemos de antecipar isso”, contou. O cenário levou à necessidade de se organizar uma operação em três dias envolvendo diferentes órgãos (como a polícia, o Exército e a Marinha).

Combater o crime, não o tráfico

O secretário cobrou ação da Receita Federal e de outros órgãos o controle das fronteiras para dificultar a chegada do tráfico de drogas. A maior parte dos narcóticos que desembarcam na cidade vem, segundo Beltrame, da Bolívia e do Paraguai. “A droga é um mercado, (envolve) cultivo, produção, distribuição, varejo. Isso é muito mais do que uma doença”, disse, ao ser questionado sobre o que diria aos usuários.

Ele declarou ainda que não pretende “acabar com o tráfico de drogas”, já que o problema ocorre em todo o mundo, incluindo cidades europeias. “Ninguém está aqui para jogar para a torcida. São vidas humanas em jogo, pessoas amordaçadas pela ditadura da droga e pelo fuzil há décadas e temos de libertá-las”, disse. O foco da ação é acabar com a “vigilância e as ameaças do tráfico” sobre a população.

O foco da política de segurança defendida por Beltrame é que se garanta um patamar que evite que apenas antes de grandes eventos sejam tomadas providências. Segundo ele, às vésperas das festas de final de ano, do carnaval e de outras situações – como os jogos Pan-Americanos de 2007 – adotavam-se medidas emergenciais. Isso tende a ser reduzido caso seja efetiva a ação de “pacificação” das comunidades.

A respeito da presença de milícias formadas por ex-policiais, especialmente na zona oeste da cidade, o secretário garantiu não fazer distinção entre essas organizações ilegais das relacionadas ao narcotráfico. “O programa de instalação das UPPs acompanham um itinerário na cidade, como uma parábola. Seja Comando (Vermelho), milícia… O que está projetado será feito. Chegará a vez também da Rocinha e Vidigal”, prometeu.

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Colaborou Letícia Cruz