Comissão prometida por Kassab é pouco, dizem moradores de bairros alagados em SP

Para lideranças do Jardim Pantanal, um dos bairros alagados há mais de 60 dias em SP, reunião com prefeito e secretários não gerou avanços

Para moradores, promessas de prefeito são insuficientes (Foto: Antonio Cruz/Abr)

Depois de cinco horas de discussões entre moradores de bairros alagados na zona leste de São Paulo (SP) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP), “quase nada mudou”, afirma Ronaldo Delfino de Souza, da coordenação do Movimento de Urbanização e Legalização do Jardim Pantanal. A reunião ocorreu na tarde de sexta-feira (12) e a única medida prometida pela prefeitura foi a criação de uma comissão para estudar a situação dos moradores de regiões que sofrem com enchentes desde 8 de dezembro.

Apesar de receber os moradores, Souza considera que “o prefeito de fato escutou, mas não deu ouvidos” à população. “(Ele) vai fazer tudo que continua fazendo e que não está dando resultados para atender a população”, critica, em entrevista à Rede Brasil Atual.

A prefeitura deve criar uma comissão oficial com a participação de órgãos municipais, estaduais e de moradores para “analisar o atendimento aos atingidos pelas enchentes na região do Jardim Pantanal”, segundo informou o Executivo em nota. Não foi definida uma data para a medida.

Segundo Souza, a comissão analisará exclusivamente problemas do Jardim Pantanal. “Moradores de São Mateus e da zona sul vão conversar separadamente. Kassab não quis unificar as discussões sobre enchentes”, adianta Souza.

O encontro teve a participação de senadores e deputados de partidos de oposição na cidade. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), os deputados federais Ricardo Teixeira (PT-SP) e Ivan Valente (PSOL-SP) e os vereadores João Antonio, Zelão e Alfredinho (todos do PT) estiveram presentes.

Os maiores pontos de conflito entre Executivo municipal e os moradores foram os problemas de habitação e saúde da população. “O objetivo da prefeitura é realmente retirar as famílias dos bairros atingidos para a construção do Parque Várzeas do Tiêtê”, decreta o líder comunitário. O problema, segundo Souza, é a falta de cuidado com as pessoas. “Ele deixou claro que vão continuar derrubando as casas, sem nos dar alternativas dignas”, sustenta.

A prefeitura oferece o programa Bolsa-Aluguel, R$ 300 por mês, como forma de compensação. Além disso, promove o cadastro das famílias em conjuntos habitacionais construídos em até dois anos, com pagamento a cargo dos moradores. Para solucionar o problema habitacional, os moradores propuseram à prefeitura deixarem as casas por outra casa pronta. “Vamos resistir”, promete Souza.

Discussão canina

Quase metade das cinco horas de reunião foi dedicada ao destino de cães de moradores abrigados na Escola Municipal de Ensino Fundamental Flávio Augusto Rosa.

Um político presente embarcou na ideia e pediu providências para os cães das regiões alagadas de São Paulo.

Lideranças avaliam que a discussão foi uma estratégia de Kassab para evitar assuntos polêmicos.

Do ponto de vista da saúde, os moradores e parlamentares da oposição acusam a prefeitura de ocultar casos de leptospirose na região. Eles apontam 34 casos suspeitos, mas nenhum confirmado.

Manifestação

Na sexta, enquanto os moradores das áreas alagadas chegavam para a reunião com o prefeito, o Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias do Município de São Paulo (Sindsep) realizava protesto em frente ao Executivo, contra demissão de agentes de zoonoses. “Justamente agora que a cidade toda precisa de cuidados especiais de saúde, devido às enchentes, a prefeitura demite arbitrariamente agentes de zoonoses”, denuncia João Batista Gomes, do Sindsep. Os profissionais, contratados em 2001, serão desligados no final de fevereiro.