contra a democracia

Sites de fake news tentam intimidar criadores do Sleeping Giants e juíza apoia

Página não comete ilícito, apenas alerta empresas que seus anúncios estão sendo associados a mentiras. Mesmo assim, juíza do TJ-RS manda Twitter revelar quem são seus administradores

reprodução/twitter
reprodução/twitter
A Sleeping Giants surge para fazer frente à imensa quantidade de fake news que sabotam a democracia brasileira e inundam as redes sociais

São Paulo – Desde sua criação, há cerca de três meses, o perfil no Twitter Sleeping Giants faz frente à imensa quantidade de fake news que sabotam a democracia brasileira e inundam as redes sociais. Em seus posts, cobra que anunciantes retirem verbas e anúncios de sites que disseminam mentiras e discursos de ódio. O movimento, que não existe apenas no Brasil, incomoda portais como o Jornal da Cidade Online (JCO) – um dos principais propagadores de mentiras e fake news da extrema direita. O portal entrou na Justiça para exigir que o Twitter revele quem são os criadores da versão brasileira do Sleeping Giants.

“Mesmo sem nenhum indício de ato ilícito cometido, o Twitter está sendo obrigado a fornecer nossas identidades. Tem até ameaças de bolsonaristas”, afirma o perfil.

Sleeping Giants contra decisão da Justiça do Rio Grande do Sul

De fato, não existe ilícito, como apontou a própria juíza Ana Paula Caimi, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que emitiu a ordem para que o Twitter revelasse os dados cadastrais por trás da Sleeping Giants. A página apenas alerta empresas que suas verbas para anúncios na internet estão sendo direcionadas para sites que disseminam discursos de ódio e mentiras e difamações. A publicidade negativa surte efeitos e muitas empresas já se retrataram, afirmando não saber que estavam contribuindo financeiramente para a disseminação de ataques constantes à democracia.

Perfil do Twitter faz empresas retirarem anúncios em sites de ‘fake news’

A rede social recorreu da decisão, ao alegar que ela é “nitidamente contraditória”, já que não existe ilícito praticado pela página. Entretanto, ao decidir a favor do JCO, Ana Paula Caimi pode quebrar a estrutura de segurança da rede, já que se trata de uma sentença discriminatória e sem fundamento legal.

A ação

O JCO é alvo da CPMI das Fake News. O portal é bancado por parlamentares bolsonaristas da bancada de extrema direita no Congresso e com estreitas ligações com o chamado “gabinete do ódio”, que atua diretamente do Planalto, de acordo com as investigações.

‘Gabinete do ódio’ segue instalado no poder para espalhar fake news, diz deputada

Seu editor e fundador é José Tolentino Filho, que vive no Rio Grande do Sul. Ele já foi condenado pela Justiça a indenização por danos morais por ataques a juízes, desembargadores e advogados publicados em seu portal. O JCO ganhou notoriedade em 2018, por ser um dos principais disseminadores de notícias falsas e informações distorcidas a favor da campanha de Jair Bolsonaro.

Quando o Sleeping Giants citou seu site para alertar anunciantes da cumplicidade com o conteúdo veiculado, ele afirmou que o perfil praticava “calúnia e difamação sem procedência, de origem anônima”. Atualmente, Tolentino tem se dedicado a atacar governadores que apoiam medidas de isolamento social como forma de reduzir os impactos da pandemia de coronavírus.

Reação em rede

Diante da ameaça de bolsonaristas para intimidar o combate às fake news, inúmeros internautas se manifestaram em defesa do Sleeping Giants. A hashtag #EuSouSleepingGiantsBrasil chegou à primeira posição nos assuntos mais comentados, os chamados trending topics, do Twitter na manhã de hoje (26).

Entre os que reagiram, estão artistas, jornalistas, intelectuais e lideranças sociais. “A Justiça quer saber quem é Sleeping Giants. Somos todos que apoiamos a desmonetização de conteúdo de ódio e difamação”, disse o humorista Marcelo Adnet. “É MUITA falta do que fazer. País cheio de problemas e os fachos gastando tempo perseguindo opositores”, completou.

O jornalista de tecnologia e games Leonardo Rocha também se manifestou. “Todo apoio a quem faz o trabalho essencial de cobrar empresas para que cortem o financiamento de quem espalha mentiras e discurso de ódio. Todo apoio à Sleeping Giants”, disse.

Omar Kraminski, jurista que atua na área digital, gestor do Observatório do Marco Civil também tomou partido. “A juíza quer saber quem está por trás e na frente do perfil Sleeping Giants Brasil. Então, vou contar: #EuSouSleepingGiantsBrasil”.

Outro humorista que, inclusive, não expressa posicionamento político de esquerda, Antonio Tabet, fundador do Porta dos Fundos, também saiu em defesa da iniciativa. “Senhora juíza, #EuSouSleepingGiantsBrasil desmonetizando o discurso de ódio e as fake news”.

A lista é extensa. O músico e compositor Leoni, seu colega de profissão, o multi-artista Paulo Miklos, a cantora Daniela Mercury, o músico recifense China, a jornalista Carla Vilhena, a Bancada Ativista do Psol, a atriz Dira Paes, o humorista Gregório Duvivier, entre muitos outros.

Edição: Fábio M. Michel