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Ruralistas incitam violência contra trabalhadores e tentam deslegitimar reforma agrária, afirma MST

Feira agropecuária no interior da Bahia utilizou faixas para mentir e espalhar o ódio contra o MST. Na CPI do MST, movimento prepara dossiê para reagir a ataques da bancada ruralista

Divulgação
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Ataques são "cortina de fumaça" para encobrir trabalho escravo, desmatamento, grilagem e veneno, em uma das áreas mais violentas do campo

São Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) reagiu aos ataques feitos pelos organizadores da 51ª Exposição Agropecuária do município de Itapetinga, na Bahia. Os ruralistas aproveitaram o evento, que terminou neste domingo (21), para pendurar faixas com ataques ao MST.

“O MST espalha terror, o produtor espalha sementes”; “O MST cultiva destruição”, “Você pode até não saber, mas mais cedo ou mais tarde, as invasões de terra também vão atingir você”, estampavam os materiais utilizados na feira.

Em resposta, a direção nacional do MST soltou nota em que repudia o que considera conteúdo “discriminatório” que “incita a violência contra trabalhadores do campo, na tentativa vil de deslegitimar a luta do Movimento Sem Terra”.  

A exposição é uma iniciativa do Sindicato dos Produtores Rurais de Itapetinga, com apoio da prefeitura, do governo estadual e federal. O MST denunciou a utilização de recursos públicos para atacar o movimento dos trabalhadores, inclusive com alegações mentirosas. “Você pode até não saber, mas mais cedo ou mais tarde, as invasões de terra também vão atingir você”, dizia outra faixa dos ruralistas.

Cortina de fumaça

O MST destaca que Itapetininga está localizada numa das regiões da Bahia com grande concentração fundiária. Também citam “práticas de trabalho escravo”, e ressaltam que a área é “palco de diversos conflitos agrários”. Desse modo, “o agronegócio e os latifundiários buscam como estratégia deslegitimar a luta das organizações do campo pela Reforma Agrária”.

Portanto, segundo o MST, trata-se de uma “cortina de fumaça” para omitir as reais problemas da região. Assim, eles denunciam o “crescente desmatamento” e a grilagem de terras causados pelos latifundiários, além da contaminação dos bens naturais pelo uso de agrotóxicos, que acabam chegando na casa da população baiana.

Embates na CPI

A propaganda preconceituosa é uma amostra do que esperar da CPI do MST, dominada pelos ruralistas. A comissão, que inicia efetivamente os trabalhos nesta terça (23), é presidida pelo deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS). Ele já apresentou projeto de lei para excluir dos programas sociais aqueles que ele chama de “invasores” e “terroristas”. O relator é o ex-ministro bolsonarista Ricardo Salles (PL-SP), que ficou conhecido por falar em aproveitar o auge da pandemia para “passar a boiada” em normas de proteção ao meio ambiente.

Para reagir aos ataques dos ruralistas, o MST prepara um dossiê contra Salles e outros membros da CPI. O objetivo, conforme nota do jornal Folha de S.Paulo, é construir um posicionamento combativo durante a comissão, a partir de informações coletadas desde já. Outras organizações estão colaborando com o desenvolvimento do dossiê, como o observatório do agronegócio brasileiro De Olho nos Ruralistas

Ao mesmo tempo, os integrantes da CPI já apresentaram 37 requerimentos de convocação ou convite a autoridades e lideranças do MST. Na lista dos possíveis depoimentos estão os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino; o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski; e João Pedro Stédile, da coordenação nacional do MST.

Em entrevista ao “Entre Vistas”, Hélio Doyle, jornalista, professor e novo presidente da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, fala à Juca Kfouri sobre o MST. Confira: