Agricultura familiar é pop

Com arte e solidariedade, MST denuncia o agronegócio. ‘Motor desta grande destruição no país’

Movimento usa cenário das artes e se prepara para uma campanha de Natal, enquanto mantém outras ações de distribuição de alimentos em meio à volta da fome

Gui Frodu/MSR
Gui Frodu/MSR
Em intervenção artística, realizada nesta quinta-feira (11), dezenas de manifestantes ocuparam a programação da 34ª Bienal Internacional de São Paulo, no Parque Ibirapuera

São Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vem usando o cenário contestador das artes para criticar o modelo do agronegócio que dá preferência à exportação que produz lucro, mas não alimentos. Em intervenção realizada na última quinta-feira (11), por exemplo, dezenas de manifestantes ocuparam a programação da 34ª Bienal Internacional de São Paulo, no Parque Ibirapuera, evocando o desejo de ruptura com esse modelo que denunciam ser um agravante da fome no país

“O agronegócio efetivamente representa esse contexto de retrocesso, de aumento da violência e da fome no nosso país. Porque ainda que a gente viva permanente bombardeados debaixo de uma batalha ideológica para nos fazer acreditar que o agro é tech, pop, tudo, e que ele resolve as questões estruturais econômicas e alimentares do nosso país, na verdade, a grande contradição é essa. O agronegócio é um dos motores desta grande destruição que nós estamos passando. Ele é motor da destruição das políticas para a agricultura familiar e camponesa, que é quem efetivamente produz alimentos no nosso país”, destaca a dirigente do MST no Paraná Ceres Hadich, mestra em Agroecologia e Agricultura Sustentável. 

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Campanha ‘Natal sem Fome’

Ceres participou da edição de sexta (12) do Jornal Brasil Atual, em que observou a importância dessas intervenções artísticas no país que voltou ao Mapa da Fome depois de tê-la superado em 2014. Um reflexo não apenas da falta de renda da população, prejudicada pela pandemia de covid-19. Mas também da falta de incentivo a um sistema que possa promover a segurança e a soberania alimentar em nome do agronegócio, garante.

“A fome diz respeito à falta de políticas e à própria orientação desse presidente da República de caráter neofascista, antipopular e genocida. Que, com as políticas que vem assumindo desde o início do seu governo, antecedidas pelo governo anterior golpista de (Michel) Temer, vem promovendo a volta da fome”. 

Diante desse contexto de grave crise, o MST vem, em outra frente de ação, promovendo a campanha “Por um natal sem fome”. A iniciativa faz parte do conjunto de políticas permanentes de solidariedade do MST, que doará cestas de alimentos produzidos pelos pequenos agricultores a famílias em situação de extrema pobreza. As cestas terão produtos em quantidade necessária para o consumo de uma família de quatro pessoas por um mês. Os movimentos populares também irão garantir o trabalho de transporte e distribuição às comunidades. A campanha também está aberta para contribuição com R$ 300 para doação de uma cesta. 

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Amenizar a dor

“Estamos nos esforçando para fazer desse natal um natal mais humanizado. E que ele possa chegar à maioria daqueles e daquelas que estão nos rincões das periferias das grandes cidades. Assim como nas cidades do interior, onde a gente sabe que vem crescendo avassaladoramente a fome nesse último período do país”, observa a dirigente. 

Desde março do ano passado que os trabalhadores rurais estão mobilizados para atender a demanda por alimentos. Ao longo desse período, mais de 5 mil toneladas de alimentos foram doadas e um milhão de marmitas distribuídas. “E agora a gente se prepara para a campanha do natal para amenizar a dor e a violência tão presente em milhares de lares brasileiros.”

De acordo com um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), quase 20 milhões de brasileiros afirmam que passam períodos de 24 horas sem ter o comer, enquanto o Ministério da Agricultura comemora a safra de grãos do modelo do agronegócio. Cerca de metade da população – 116,8 milhões de pessoas – sofre atualmente algum tipo de insegurança alimentar. 

Confira a entrevista 

Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima