Assassinato

Professores se solidarizam com povo Pataxó após mais um episódio de violência

Trabalhadores sem-terra fizeram protesto em rodovias no sul da Bahia. Professores divulgaram nota contra “mais um episódio nefasto da guerra pela terra no Brasil”

Reprodução/Redes sociais
Reprodução/Redes sociais
Sem-terra protestam em rodovia: conflito matou mais uma indígena

São Paulo – Integrantes do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) protestaram nesta segunda-feira (22) contra o assassinato de Maria Fátima Muniz de Andrade, a pajé Nega Pataxó, ontem. Eles interditaram trechos da BR-101, em três municípios do sul da Bahia, pedindo apuração do crime e justiça.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, chegou hoje ao local. Ela visitou os feridos no hospital. A previsão era de que também fosse à aldeia, além de participar do velório. O ataque, de um grupo intitulado Invasão Zero, terminou com três baleados, incluindo o cacique Nailton Pataxó Hã Hã Hãe, na Terra Indígena Catarina-Caramuru Paraguassu, na zona rural do município de Potiraguá, sul da Bahia. 

Professores universitários divulgaram nota em solidariedade ao povo Pataxó e em protesto contra o que chamaram de “mais um episódio nefasto da guerra pela terra no Brasil”. Eles lembram que o cacique Nailton Pataxó é doutor por Notório Saber em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Direitos indígenas

“Liderança política e intelectual de convicção inabalável na legitimidade dos direitos de seu povo, assim como de todos os povos indígenas do Brasil, Nailton tem atuado durante décadas, e sobretudo no contexto da Constituinte em 1987 na defesa dos direitos humanos, com profunda sabedoria. Suas negociações e formas de comunicação estratégica e intermundos sempre foram orientadas por um espírito de preservação da vida e de justiça social (…)”, diz a nota dos docentes.

Eles também falam da importância da pajé Nega Muniz Pataxó. “Empenhada na retomada – que não significa apenas a entrada na terra, mas sustentar e fertilizar a vida nela de novo e em longa duração –, era liderança espiritual e realizava um trabalho muito importante de mobilização da juventude e de defesa das mulheres indígenas. A relevância desse trabalho ecoava não só no território Catarina Caramuru Paraguassu, mas em outras frentes, como no Acampamento Terra Livre e no INCT de Inclusão/UnB, onde ditou uma aula memorável, junto com os irmãos Nailton e Miguel.”

Cerco de fazendeiros

Segundo relato da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), ruralistas cercaram a área com caminhonetes, enquanto policiais atiravam contra os indígenas. A mobilização foi feita via WhatsApp. Dois fazendeiros foram presos por porte ilegal de arma.

“A tecnologia de morte de supostas reintegrações de posse sem qualquer legalidade, age, dessa forma, de maneira sádica, inescrupulosa e mortífera contra o direito originário que, em face da omissão do Estado brasileiro, leva os indígenas à ação auto-organizada de auto-demarcação”, afirmam os professores. O documento é assinado por José Jorge de Carvalho (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa (INCTI) da Universidade de Brasília); Luciana de Oliveira e César Geraldo Guimarães (Comissão Coordenadora da Formação Transversal em Saberes Tradicionais da UFMG); e pelo Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP).