Não funciona

Colocar psicólogos em escolas é plano paliativo e demagogia de Tarcísio, afirma especialista

Diretora do Sindicato dos Psicólogos de SP, Fernanda Magano entende que a presença desses profissionais só funciona na perspectiva de um trabalho amplo e multidisciplinar, conforme lei federal. E que policiamento não deve ser privado

Divulgação/GOVSP
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Tarcísio quer contratar psicólogos e segurança privada nas escolas, mas não deu detalhes

São Paulo – A proposta do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de contratar 550 profissionais de Psicologia para atendimento semanal nas escolas estaduais é paliativa e demagógica. A avaliação é da integrante do Conselho Nacional de Saúde e diretora do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (Sinpsi), Fernanda Magano. Nesta quinta-feira (13), o governo anunciou que a partir de junho, a rede terá um profissional para cada 10 escolas. Na estimativa do secretário de Educação, Renato Feder, isso permitirá pelo menos um atendimento semanal.

Fernanda é favorável à contratação, mas desde que siga critérios e a própria legislação. “É importante a contratação de profissionais da Psicologia. No entanto ela deve ocorrer dentro dos princípios da lei 13.935, que determina psicólogas e assistentes sociais na educação. Mas em uma função de interagir com toda a comunidade educadora e não só nos atendimentos clínicos. É uma armadilha essa lógica de atendimento clínico sem plano de trabalho”, disse.

Publicada em dezembro de 2019, a lei determina que as redes públicas de educação básica oferecerão serviços de Psicologia e de Serviço Social para atender às necessidades e prioridades definidas pelas políticas de educação. E que equipes multiprofissionais deverão desenvolver ações para a melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Para isso contarão com a participação da comunidade escolar na mediação das relações sociais e institucionais.

Psicólogos e seguranças nas escolas: critérios

Outro aspecto alvo de crítica é falta de informação do governo sobre o modelo de contratação. Fernanda defende a realização de concurso público. Mas em caso emergencial, concorda com um processo seletivo que tenha como parâmetro a lei federal aprovada. Na sua avaliação, da maneira que o anúncio foi feito, não houve estudo psicopedagógico nem debate com professores, pais, alunos, psicólogos e a sociedade. Daí julgar a medida paliativa e de caráter demagógico.

Outra medida anunciada, de contratação de segurança privada para fazer rondas nas escolas, também foi vista com preocupação. Isso porque o tema segurança requer muita reflexão e não pode ser tratado na perspectiva dos discursos de ódio e eliminação de quem pensa o contrário, segundo a dirigente. E também porque esses seguranças particulares serão “um chamariz para setores reacionários e de extrema direita pressionarem o governo para o armamento dessa segurança, o que pode gerar ainda mais tragédias”.

Enfrentar a violência com educação

“Contratar segurança é importante, mas é combater o efeito, não a causa de episódios como os que estamos assistindo e que já se tornaram uma trágica rotina nos Estados Unidos, berço do individualismo”, afirma a psicóloga.     

Ela lembrou que a sociedade tem de discutir e buscar alternativas ao projeto neofascista de ódio e ataques virtuais e reais, que proliferaram nos últimos quatro anos. “É preciso enfrentar a violência com uma Educação que ultrapasse a lógica mercantilista e meritocrática, na qual só é cidadão quem consome; uma sociedade que incentiva o consumo e ao mesmo tempo nega a seus cidadãos as condições materiais para isso, que embasa a vida na lógica da competição individualista, em vez da cooperação solidária, é uma sociedade que faz seus indivíduos adoecerem e, no desespero, tomarem atitudes extremas.”


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