Mais perdas

No nono dia de buscas, número de mortos em Petrópolis sobe para 198, com 69 desaparecidos

Previsão para hoje é de mais pancadas de chuva no município. Geógrafo da USP alerta para importância de tecnologias sociais para minimizar efeitos climáticos

Fernando Frazão/ABr
Fernando Frazão/ABr
"Grande parte da população ainda está em situação de vulnerabilidade. Isso faz com que episódios dessa ordem causem em mortes, perdas materiais bastante agudas", observa o professor da USP

São Paulo – O número confirmado de mortos em decorrência dos deslizamentos provocados por fortes chuvas em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, chegou a 198 nesta quarta-feira (23). Segundo a Polícia Civil do estado, entre as vítimas 119 são mulheres, 79 homens e 37 crianças. O total de desaparecidos caiu para 69, neste que é o nono dia de buscas. 

As equipes do Corpo de Bombeiros continuam nas áreas afetadas. Mas, segundo monitoramento meteorológico da Defesa Civil, a previsão para hoje é mais pancadas de chuva moderada entre a tarde e noite. Até o momento, o órgão registrou quase 1,8 mil ocorrências por toda cidade, principalmente nas áreas do 1º distrito, que foram as mais afetas pelos desabamentos, deslizamentos e a enxurrada. São elas: Alto da Serra do Morro da Oficina, Sargento Boening, Vila Felipe, Rua Itália e Caxambu. As campanhas de solidariedade também segue sendo mobilizadas para atenuar os impactos da tragédia na cidade. 

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o professor Wagner Ribeiro, do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), lamentou a situação de Petrópolis, alertando que o total de vítima já se aproxima do número de mortos pelo crime da Vale em Brumadinho, Minas Gerais. Na ocasião, em 2019, o rompimento de uma barragem matou 272 pessoas e deixou nove desaparecidas até hoje. Em comum, segundo o geógrafo, tratam-se de dois desastres que não são naturais, mas sim de repercussão social. “Porque é a vulnerabilidade que acaba levando a essas mortes”, destaca. 

A vulnerabilidade brasileira

À jornalista Marilu Cabañas, Ribeiro observa que, no caso de Petrópolis, há tecnologias sociais e que envolvem a comunidade que podem de alguma maneira ajudar a enfrentar os efeitos climáticos. Ele cita um estudo publicado na revista Disaster Prevention and Management. O documento mostra que com mapeamentos das áreas de riscos e a participação de moradores, principalmente estudantes do ensino médio, é possível construir programas futuros de prevenção a esses tipos de ameaças ambientais. Mas é preciso, conforme ressalta, investimentos. 

Reportagem do portal UOL mostra que nove equipamentos que foram instalados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) estão paralisados desde janeiro de 2018 por falta de verba do governo federal para a manutenção. O geógrafo adverte que a questão fica ainda mais grave diante da ocorrência de eventos extremos que devem ser cada vez mais intensos por conta da mudanças climáticas. E também do “grande problema”, a segregação socioespacial. O que qualifica o espaço urbano com base na renda e expulsa os mais pobres para áreas que não garantem moradia adequada.  

“Houve em Petrópolis uma conjunção de fatores (para a chuva) que não é frequente mas que pode se repetir lá em outros lugares também. Entre eles, um volume acumulado de chuvas e a presença dos famosos aerossóis que ajudam de alguma maneira a precipitar com mais intensidade. E, infelizmente, tivemos a chuva nessa intensidade. Mas o problema não é ela, e sim que as pessoas não estão, infelizmente, preparadas para absorver essa chuva. Grande parte da população ainda está em situação de vulnerabilidade. Isso faz com que episódios dessa ordem causem em mortes, perdas materiais bastante agudas”, observa o professor. 

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Redação: Clara Assunção