Esforço coletivo

MST expande produção de laticínios com abertura de agroindústria na Paraíba

Agora, seis estados produzem e comercializam derivados de leite

Carla Batista/MST
Carla Batista/MST
Em Casserengue, a Nutrilê se caracteriza pela produção a partir do leite caprino

São Paulo – A produção de laticínios vinculada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chegou ao sexto estado, com a abertura da primeira agroindústria do setor na Paraíba. Inaugurada na semana passada no município de Casserengue, a Nutrilê se caracteriza pela produção a partir do leite caprino.

Segundo o MST, a agroindústria é resultado de esforço coletivo envolvendo a Associação dos Agricultores e Agricultoras do Assentamento Ernesto Che Guevara e a Cooperativa de Produção e Comercialização dos Caprinocultores e Ovinocultores do Curimataú Paraibano (Coopac). Curimataú é uma região formada por 29 municípios, de clima semiárido, e com locais procurados para prática de esportes radicais.

Por dia, 7,5 milhões de litros de leite

“A ideia da cooperativa surgiu da necessidade de apoiar a comercialização dos produtos de origem agrícola e pecuário (especialmente o leite de cabra), típicos da região”, diz o MST. “Os cooperados possuem atualmente em torno de 500 matrizes caprinas, sendo 220 animais de alta genética, com produção média global de 2 litros de leite diário por matriz.”

Segundo os sem-terra, até agora havia produção de laticínios em São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Ceará e Santa Catarina. Nessas áreas, são produzidos 7,5 milhões de leite por dia.

Sonhar e acreditar

“O primeiro passo foi fazer o povo acreditar que é possível desenvolver uma agricultura, uma pecuária, desde que a gente entenda nossa região”, afirma o diretor de comercialização da Coopac, Augusto Belarmino. “Primeiro foi fazer o povo sonhar… Não é fácil você pegar agricultores, produtores com 30, 40 e 50 anos acostumados com um sistema de produção. Mas é um processo que foi demonstrando que é possível.”

A atividade se concentra em produtos derivados do leite de cabra – além do próprio leite, queijo, ricota, iogurte e manteiga. A formação da cooperativa ajuda a criar melhores condições de vida no campo e consequentemente, diminuir o êxodo rural. Augusto destaca o impacto do projeto na vida da famílias, em um lugar marcado por seca e estiagem.

O início da cooperação agrícola no beneficiamento dos produtos foi no ano passado. Atualmente, conta com 79 famílias de assentamentos e comunidades do município: 25 de Julho, Poço Verde, Santa Clara, Pedro Henrique (assentamentos) e Cabeçudo, Cacimba Doce, Barra do Urubu, Salgado, Valério e Cacimba da Barra (comunidades).

Inauguração da agroindústria: fonte de renda e novas perspectivas (Foto: Carla Batista/MST)

Associação dos produtores

A Unidade de Beneficiamento do Leite Nutrilê contou com incentivos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza no Estado da Paraíba (Funcep), de emenda parlamentar da deputada estadual Cida Ramos (PT) – natural de Sapé, terra do líder rural João Pedro Teixeira, personagem do documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho. E também do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). O vice-governador, Lucas Ribeiro (PP), participou da inauguração, além do superintendente do Incra, Antônio Barbosa, secretários, prefeitos e outros políticos da região.

“A cooperativa tem uma organização que se inicia com a associação dos produtores e tem uma importância muito grande na região para as famílias envolvidas, os consumidores e a sociedade em geral pelo seu papel no desenvolvimento social, produtivo e econômico do território”, ressalta o MST.

Qualidade de vida

“A conquista dessa agroindústria tem o mesmo sentimento e alegria de anos atrás, quando conquistamos o direito à terra”, acrescenta a presidenta da Coopac, Adriana Cândido. “É valioso e temos um grande desafio que é mudar a qualidade de vida da mulher e do homem do campo. E fazer com que os nossos produtos Nutrilê cheguem à mesa das famílias mais carentes com um preço justo.”

“Antes a gente criava cabras soltas, das que vivem pelo mato”, conta Bruna Lima, 22 anos. “Cabras leiteiras foram depois da cooperativa. Muita coisa tenho aprendido, e que não sabia. Tem aberto muitos caminhos pra minha família. Está nos ajudando muito a ter uma renda melhor pra casa.”

Com informações de Carla Batista, do MST na Paraíba