Retrocesso

Movimentos se mobilizam para impedir homenagens a coronel da ditadura e ‘filósofo’ bolsonarista

Em Belo Horizonte e São Paulo, parlamentares querem batizar viadutos com os nomes de Olavo de Carvalho e Erasmo Dias

TV Globo
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Viaduto em BH homenageia Helena Greco, militante dos direitos humanos

São Paulo – Movimentos e parlamentares passaram a se mobilizar desde que um projeto foi apresentado na Câmara de Belo Horizonte propondo a mudança do nome de um viaduto: de Helena Greco para Olavo de Carvalho. Ou seja, o local deixaria de homenagear uma ex-vereadora e militante dos direitos humanos para dar vez ao “ideólogo” do bolsonarismo. Já em São Paulo, a tentativa é de impedir que o ex-coronel Erasmo Dias, expoente da ditadura, dê nome a viaduto, conforme projeto aprovado na Assembleia Legislativa.

O viaduto da capital mineira já chegou a se chamar Castello Branco, em apologia ao primeiro militar presidente do período da ditadura, iniciado em abril de 1964. Ficou dois anos sem nome, após revogação de decreto que o nomeava, até que em 2014 um projeto deu a denominação atual.

Movimentos pela anistia

Nascida em Abaeté, região central do estado, Helena Greco foi fundadora e residente e fundadora do Movimento Feminino pela Anistia em Minas Gerais, em 1977. E também do Comitê Brasileiro de Anistia, no ano seguinte. Era um período de mobilização em todo o país pelo retorno dos exilados políticos e pela volta da democracia ao Brasil. Em 1983, ela foi eleita vereadora pelo PT – a primeira a ocupar esse cargo no município. Helena morreu em 2011, aos 95 anos.

O Projeto de Lei 557/2023 está na Comissão de Legislação e Justiça da Câmara de Belo Horizonte. A autora da proposta, vereadora Flávia Borja (PP), afirma que Olavo foi “um grande referencial para o pensamento político brasileiro”. E destacou que o ex-presidente da República (o mesmo que ignorou várias mortes de pessoas conhecidas) homenageou formalmente o chamado “filósofo”.

Pessoa violenta e antidemocrática

Em São Paulo, dirigentes de centrais sindicais e da União Nacional dos Estudantes (UNE) divulgaram nota para repudiar possível homenagem ao coronel Erasmo Dias. “Uma pessoa reconhecidamente autoritária, violenta e antidemocrática”, afirmam. O projeto foi apresentado em 2020 pelo então deputado Frederico D´Ávila (PL) e dá o nome do militar a um viaduto de Paraguaçu Paulista, sua cidade natal.

Na nota, as entidades lembram da invasão ao campus da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, comandada por Erasmo Dias, então secretário de Segurança Pública, em 1977. Além disso, quando comandante do Forte Itaipu, na Baixada Santista, o militar prendeu sindicalistas como petroleiros, portuários e estivadores, aprisionando todos no navio Raul Soares, o navio prisão”.

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“Não podemos aceitar que tais arbitrariedades sejam esquecidas. O Brasil precisa aprender com sua história para não repetir períodos de retrocesso e obscurantismo”, acrescentam as centrais e a UNE. Todas pedem que o governador Tarcísio de Freitas vete o projeto “absurdo”.