Romper a violência

Movimento de mulheres lança campanha contra o abuso sexual na infância em escolas públicas do ABC

Movimento Olga Benário se deparou com denúncias de violência sexual de crianças e adolescentes em palestras realizadas em escolas públicas e quer levar proteção a estas meninas

Marcelo Camargo/EBC
Marcelo Camargo/EBC
Especialista no tema aprova iniciativa do movimento. "Quando a gente fala que a escola compõe a rede de proteção à criança e ao adolescente é porque ela tem esse papel de contribuir para essas ações"

São Paulo – Só no ano de 2020, mais de 95 mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes foram registradas no Brasil. Desse total, 14 mil eram de abuso, exploração sexual e estupro de vulnerável. Os dados são do Disque 100, serviço gratuito para denúncias de violações de direitos humanos. Mas, apesar de sua dimensão, eles revelam apenas uma parte desse grave problema social que ainda é subnotificado, como aponta o Movimento de Mulheres Olga Benário

Há 10 anos atuando no combate às diversas violências contra a mulher, o grupo se deparou no ano passado com essa questão durante a realização de uma campanha de conscientização da pobreza menstrual em escolas públicas do ABC paulista. Foi nesse contexto que muitas denúncias de meninas do 6º ano do ensino fundamental até o 2º ano do ensino médio começaram a aparecer e impressionaram as ativistas, como descreve a integrante do movimento Sháyra Chagas Alves. 

“Enquanto a escola entrega os kits com lencinhos, absorventes e tudo mais, a gente (do movimento) conversava com as meninas nas escolas. Primeiro, fazíamos uma introdução do que é o Movimento Olga Benário. Falávamos sobre a nossa luta contra a violência contra a mulher, as diversas violências que a mulher sofre na sociedade e sobre a pobreza menstrual. E ao final da exposição com slides, abríamos para o debate, para as meninas falarem o que elas estavam pensando, o que elas acharam, qual era a opinião delas. E nesse momento de abrir para o debate muitas delas colocavam isso de terem sofrido e serem abusadas, muitas vezes dentro da própria casa, por parentes, tios, padrastos”, aponta a ativista. 

A campanha

Também integrante do movimento, Larissa Mayumi explica que foi a partir dessas denúncias que elas perceberam a necessidade de lutar pela proteção dessas meninas. De acordo com Mayumi, muitas são às vezes negligenciadas pela própria família. Além de não terem apoio das delegacias da Mulher para denunciar, uma vez que é necessário o acompanhamento familiar. 

“E aí a gente viu a necessidade de continuar com uma campanha grande, inclusive denunciando (os casos de abuso e violência sexual)”, conta. “As escolas são espaços fundamentais de amparo e assistência às menores de idade, porque elas não podem ir a uma delegacia da mulher para fazer a denúncia ou em casas como as que construímos para atender vítimas da violência, mas vão para a escola todos os dias.”

Segundo Mayumi, nessa primeira etapa da campanha o movimento se dedicará a mapear e expor os casos de violência infantil. Para isso, serão entregues formulários de denúncias para preenchimento das crianças e adolescentes. Depois, os documentos serão levados ao conselho tutelar dos municípios. A partir daí, as vítimas serão encaminhadas para receber o devido apoio. A luta seguirá, aponta a ativista, para garantir que meninas e mulheres estejam seguras e livres de abusos e violências. 

Informação é prevenção

A coordenadora do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, Karina Figueiredo, avalia que a importância da educação sexual nas escolas é justamente saber identificar possíveis agressões e denunciar esses casos. “Quando a gente fala que a escola compõe a rede de proteção à criança e ao adolescente é porque ela tem esse papel de contribuir para essas ações. É muito importante levar esse conhecimento e informação para toda a comunidade escolar. Com certeza (a campanha) vai contribuir muito para a prevenção e para que todos conheçam estratégias de acionar serviços em casos que se identifique uma suspeita ou uma confirmação de violência”, avalia a especialista.

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