Basta de machismo

Isa Penna: ‘Enquanto houver uma de nós, haverá disposição para lutar’

Convidada de Juca Kfouri no programa Entre Vistas, na TVT, deputada pelo Psol fala da violência sexual sofrida durante sessão plenária na Assembleia Legislativa de São Paulo e da luta contra o machismo estrutural

José Antonio Teixeira/Alesp
José Antonio Teixeira/Alesp
Isa Penna (Psol) luta na Alesp para que seu agressor, Fernando Cury (Cidadania) tenha mandato cassado. "Uma hora eu posso esbarrar nele num corredor vazio e sem ninguém"

São Paulo – “Aquele vídeo foi um gatilho emocional para quase todas as mulheres. Quase todas já foram assediadas durante a vida.” A fala é da deputada estadual Isa Penna (Psol), durante o programa Entre Vistas, conduzido pelo jornalista Juca Kfouri e exibido pela TVT, na quinta-feira (18). O vídeo citado é a principal prova da importunação sexual da qual ela foi vítima

A violência foi protagonizada pelo também deputado Fernando Cury (Cidadania), e ocorreu em sessão plenária na Assembleia Legislativa de São Paulo, em dezembro. Tudo “sob as barbas” do então presidente da Casa, deputado Cauê Macris (PSDB). “Desde que aconteceu, eu tenho sintomas físicos”, diz, explicando que sente como se algo estivesse “colado ao seu corpo”. “São danos que a violência faz às mulheres. Danos também psicológicos. A gente perde um pouco a capacidade de confiar e amar”, lamenta.

Isa, que também é advogada, contou que a ação de deter a mão de Cury e o afastar energicamente representou uma reação que geralmente é negada às mulheres.

Férias

Isa falou ainda sobre a decepção da decisão do Conselho de Ética, que puniu o agressor com o afastamento de quatro meses, mantendo seus salários e seu gabinete em pleno funcionamento. “Férias”, classificou Juca Kfouri. Sobre a ação que pede a cassação de mandato de Cury, Isa Penna relata que que recebeu grande quantidade de mensagens, pelas redes sociais, dizendo que o dano causado ao deputado – que se perder o mandato, terá seu gabinete desmontado e seus assessores, exonerados – seria muito maior ao que ele fez a ela. “É como se o nosso corpo pudesse ser violado.”

O programa teve participação do relator do caso no Conselho de Ética, que teve seu voto vencido, deputado Emídio de Souza (PT/SP). “Quero dizer que você tem sido uma gigante. O Conselho de Ética fez uma pena ridícula e pequena, derrubando o relatório que eu tinha produzido. Agora vamos ao plenário”.

Outra participação foi da jornalista Larissa Costa, do Brasil de Fato em Minas Gerais. “Nós mulheres, assistindo, foi como se dissessem: ‘não ocupem esse espaço na política. Não ocupem esse espaço institucionais’”.

‘Espírito da impunidade’

Já a secretária da executiva nacional da CUT, Julia Reis Nogueira, do Maranhão, lembrou que situações como as vivenciadas por ISa Penna demonstram que “o machismo perpassa todas as relações na sociedade brasileira. Isso só é possível por conta do espírito da impunidade.”

Isa Penna relembrou das inúmeras agressões sofridas por mulheres na política, como a presidenta Dilma Rousseff e Manuela d’Ávila. “Enquanto houver uma de nós, haverá disposição para lutar.” Para ela, um dos aprendizados é o de que é preciso reagir. “Temos esse direito”.

Ela convidou ainda as pessoas a ajudar a pressionar os demais deputados pela cassação do agressor Fernando Cury pelo site Por Uma Punição Exemplar.


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