Bento Gonçalves

Homem é preso após operação encontrar trabalhadores em condições de escravidão em vinícolas gaúchas

A maioria dos trabalhadores vinha do interior da Bahia. Estariam em alojamento insalubre e com comida estragada. Eram mantidos no serviço por supostas “dívidas”

MPT-RS
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Entre outras situações, alojamento dos trabalhadores era precário

São Paulo – Um homem foi preso durante operação que encontrou mais de 200 trabalhadores em más condições de alojamento na colheita de uvas e abate de frango em Bento Gonçalves, município da região vinícola do Rio Grande do Sul. A maioria vinha da Bahia. No caso da colheita, o jornal gaúcho Zero Hora informou que os trabalhadores eram ligados a uma empresa terceirizada, que fornecia mão de obra inclusive para três vinícolas (Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi).

A operação foi deflagrada por uma força-tarefa na noite de quarta-feira (22), em uma pousada de Bento Gonçalves. Já é considerado o maior resgate já realizado no estado que envolve situação análoga à escravidão. O caso na Serra Gaúcha foi descoberto pelas autoridades após seis homens conseguirem fugir do local e denunciar a situação a agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Condições insalubres

Segundo as primeiras informações, o homem preso – e liberado após pagamento de fiança – é um empresário de Valente, na Bahia. Ele seria o responsável por agenciar trabalhadores daquele estado para atuar em vinícolas com as quais tinha contrato. No alojamento, foram constatadas condições insalubres de higiene e limpeza.

De acordo com o Ministério Público do Trabalho (MPT), em torno de 215 trabalhadores foram encontrados “em más condições de alojamento”. Pelas denúncias que motivaram a operação, eles eram submetidos a jornadas exaustivas, “recebiam comida imprópria para consumo, só podiam comprar produtos em um único estabelecimento, com desconto salarial e preços elevados, e eram mantidos vinculados ao trabalho por supostas ‘dívidas’ contraídas com o empregador”.

Apuração e pagamento

Além do MPT e da PRF, participaram da operação a Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego e a Polícia Federal (PF). A coordenadora da Procuradoria do Trabalho do Município (PTM) de Caxias do Sul, Ana Lucia Stumpf González, e a vice regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete), procuradora Franciele D’Ambros, foram a Bento Gonçalves e colheram depoimentos. As autoridades vão calcular o valor para pagamento de verbas rescisórias.

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As vinícolas envolvidas se manifestaram ao jornal gaúcho. A Aurora e a Salton informaram que usam mão de obra temporária, mas que esses trabalhadores têm condições e treinamento adequados. Já a Garibaldi disse que mantinha contrato, agora encerrado, para descarregamento de caminhões. Todas alegaram desconhecer a situação relatada.