Visibilidade

Documentário revela impactos da pandemia nas periferias de Manaus

Por meio dos registros audiovisuais do Coletivo Ponta de Lança, curta-metragem descortina situação de negligência nos bairros periféricos da capital do Amazonas e documenta a rede de solidariedade que se formou nas comunidades

Coletivo Ponta de Lança/Reprodução
Coletivo Ponta de Lança/Reprodução
De acordo com o coletivo, dar visibilidade à realidade periférica foi uma das formas que as ativistas encontraram de dar um retorno social ao lugar que as formaram e as levaram à universidade

São Paulo – O Amazonas foi palco de uma das maiores tragédias durante a pandemia no início deste ano, quando faltou oxigênio e pessoas perderam a vida, asfixiadas, pela covid-19. A grave crise teve repercussão internacional à época, mas quem até hoje segue de perto acompanhando os efeitos da falta de gestão federal e local sobre a população é um coletivo formado por mulheres negras que nasceram e cresceram nas periferias de Manaus

O Coletivo Ponta de Lança elaborou o documentário Relatos de uma pandemia nas periferias amazônicas” que descortina os impactos da maior crise sanitária nas margens da sétima maior cidade do país. Nestes locais, como conta a cofundadora do coletivo, Raquel Cardoso, o medo da contaminação se soma a outros problemas como o desemprego, a informalidade, a necessidade de renda e a luta das mães solo para sustentar as famílias. 

“E além de tudo, neste ano de 2021, nós passamos por uma cheia histórica. Desde 2012 não vivíamos uma cheia assim. E isso só veio a agravar todo esse cenário que a pandemia não provocou, mas visibilizou, de desigualdade, resultado de um desmonte, de um desgoverno em todo o país. O curta é uma forma de registrar e dar visibilidade para estes processos dentro do cenário amazônico”, explica Raquel, uma das realizadoras do documentário em entrevista a Marilu Cabañas, do Jornal Brasil Atual

A responsabilidade de retratar

A produção está disponível no canal do Youtube do Coletivo Ponta de Lança. A obra começou a ser filmada em meio à chamada primeira onda da covid-19, em agosto de 2020. Raquel é também integrante do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial no Amazonas, do Fórum de Mulheres Afro-Ameríndias e Caribenhas de Manaus e do Núcleo de Base Pretos, Pretas e Povos de Terreiro. Ela explica que a elaboração do curta no momento de crise foi a forma pela qual ela e outras ativistas encontraram de dar algum retorno às comunidades onde cresceram. A obra agora marca a trajetória do movimento criado em 2018.   

“Nós temos o perfil de sermos as primeiras a ingressar em uma universidade. Somos as primeiras a ter um curso superior em nossas famílias. Então isso traz também uma responsabilidade social, de dar uma resposta, contribuir para a nossa comunidade e de compreender o lugar que nos formou”, relata. 

O documentário foi um dos selecionados pelo projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, que presta apoio a coletivos de todo o país em parceria com a Fundação Friedrich Ebert. Entre os relatos, os espectadores passeiam pelas histórias do trabalhador Saul Dias Mota. Pai de quatro filhos e sem acesso ao auxílio emergencial, ele mostra a rotina daqueles que foram obrigados a se arriscar para ter renda.

O curta também mostra a trajetória de luta na pandemia de Fenícias Farias. Assim como Ana Maria, a Morena, de Maria do Carmo, Francisca Nunes, entre outros moradores. A produção é ainda resultado do trabalho do coletivo de formar artistas e comunicadores visuais.

Você pode assistir ao documentário na íntegra, clicando aqui

Confira também a entrevista 

Redação: Clara Assunção