Alô, governos de SP

Entidades cobram medidas que garantam o sustento dos ambulantes na pandemia

Em apoio aos trabalhadores, onze organizações assinam manifesto exigindo que medidas sejam tomadas pelos governos de São Paulo para garantir dignidade no período de crise sanitária

rRcardo Wolffenbuttel/Secom
rRcardo Wolffenbuttel/Secom

São Paulo – Trabalhadoras e trabalhadores ambulantes estão na parcela da população que foi mais afetada pela crise econômica agravada pela pandemia de covid-19. Além do baixo faturamento, com menos pessoas circulando nas ruas durante as fases mais restritivas das medidas de isolamento social, milhares desses trabalhadores informais deixaram de exercer suas atividades.

A vacinação caminha a passos lentos no país e, com o auxílio emergencial que voltará com menos da metade do valor de R$ 600, os ambulantes se veem no impasse entre se arriscar trabalhando, podendo ser contaminado pela covid-19, ou passar por severas necessidades.

Tereza Neves é ambulante na região da Avenida Paulista, na cidade de São Paulo. Ela tem 70 anos e comenta que não deixou de trabalhar pois precisa pagar as contas de casa.

“Só tem duas opções, ou você morre pelo coronavírus ou de fome. Se você não trabalha, você vai passar fome. Não estou vendendo nada como antes. Hoje mesmo eu estou aqui desde às 11h da manhã e não vendi um centavo. Mas fico aqui até às 20h tentando. Hoje não vendi nada, mas tem dia que vendo R$ 20, R$ 40. O máximo que consegui vender foi R$ 60, tenho que juntar para pagar minha luz, minhas contas”, afirmou.

Manifesto cobra medidas

Segundo Tereza, se não fossem as doações que vem recebendo, sua situação estaria muito pior. “Contei com a solidariedade de muita gente, que me ajudou com arroz, feijão, óleo. Fome eu não cheguei a passar. O que eu não tinha era uma mistura, as vezes de manhã não tinha pão nem leite, mas fome, graças a Deus não”, descreve.

Para evitar que os ambulantes continuem nesta situação de vulnerabilidade, 11 entidades se uniram e publicaram um manifesto pedindo medidas da Prefeitura e do Governo Estadual de São Paulo que garantam o sustento dessas famílias durante a pandemia.

Representante da União Nacional de Trabalhadoras e Trabalhadores Camelôs, Ambulantes e Feirantes do Brasil (Unicab-SP), Valdina Silva explica que pedir garantia de direitos para esses trabalhadores não significa que são contra as medidas restritivas, mas sim, contra a vulnerabilidade em que os ambulantes se encontram. “São trabalhadores vulneráveis. Eles não têm como tirar recurso de outro meio que não o trabalho”, explica.

Ambulante é trabalhador

Também integrante do Fórum dos Ambulantes de São Paulo, outra entidade que assina o manifesto, Valdina comenta que os próximos passos para garantir direitos básicos aos ambulantes e camelôs é marcar uma audiência pública com os vereados Juliana Cardoso e Eduardo Suplicy (PT) para cobrar as medidas e estabelecer um diálogo com o poder público. Em paralelo, eles trabalham para recolher o maior número de assinaturas.

“Estamos pedindo para que todos os companheiros assinem esse manifesto e que tenham consciência de que o trabalhador ambulante é tanto trabalhador como o que tem carteira assinada”, destaca a representante da Unicab e do Fórum dos Ambulantes.

Apenas na cidade de São Paulo, segundo o IBGE, em 2018, havia 103 mil trabalhadores na via pública, sendo 81 mil ambulantes. As organizações que representam esses trabalhadores estimam que esse número aumentou com a crise econômica, que empurrou milhões de brasileiros ao desemprego.

Entre as entidades que assinam o manifesto, estão o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a Central de Movimentos Populares (CMP) e o Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos

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