Trabalhadores rurais comparam desigualdade no campo de 2012 à do Brasil pré-ditadura

37 entidades sociais se unificam pra cobrar reforma agrária e condenar agronegócio

São Paulo – O Encontro Unitário de Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e da Floresta foi encerrado hoje (22). As 37 entidades sociais que participaram do evento, entre eles, a Central Única dos Trabalhadores, o MST, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Greenpeace assinaram a Declaração Final do Encontro Unitário, que exige a reforma agrária e condena o incentivo que o governo federal dá ao agronegócio.

Segundo o texto, este modelo estimula a desigualdade social. “Mesmo gerando conflitos e sendo inimigo dos povos, o Estado brasileiro nas suas esferas do Executivo, Judiciário e Legislativo, historicamente vem investindo no fortalecimento do modelo de desenvolvimento concentrador, excludente e degradador. Apesar de todos os problemas gerados, os sucessivos governos – inclusive o atual – mantêm a opção pelo agro e hidronegócio” é um trecho.

O evento lembrou o I Congresso Camponês do Brasil, que ocorreu em novembro de 1961. À época, os movimentos sociais, o Partido Comunista Brasileiro, o Partido Socialista Brasileiro, o Partido Trabalhista Brasileiro, a esquerda cristã e os brizolistas se reuniram em Belo Horizonte para manifestar apoio ao governo de João Goulart, que já era ameaçado pelos grupos políticos e econômicos da direita. Os participantes do congresso lançaram o slogan “Reforma agrária: na lei ou na marra!”. Segundo a declaração final do evento que foi encerrado hoje, a desigualdade na distribuição de terras atual é a mesma daquela época.

A declaração também diz que os movimentos sociais do campo e as entidades participantes do encontro unificarão suas lutas. “Nós estamos construindo a unidade em resposta aos desafios da desigualdade na distribuição da terra. Como nos anos 60, esta desigualdade se mantém inalterada, havendo um aprofundamento dos riscos econômicos, sociais, culturais e ambientais, em consequência da especialização primária da economia”, diz outro trecho, que aponta um caráter assistencialista nas políticas públicas. “Estas políticas contribuíram para o processo de desigualdade social entre o campo e a cidade, o esvaziamento do meio rural e o aumento da vulnerabilidade dos sujeitos do campo, das águas e das florestas”, acrescenta.

Durante o evento, houve dissidências entre os movimentos. Segundo alguns ativistas, uma parte deles estava disposta a radicalizar o discurso e romper com o governo federal, outra, mostrava-se mais receosa e dizia que não era possível deixar de apoiar o PT nas próximas eleições, pelo receio do partido opositor. Mas as lideranças dos movimentos afirmaram que as diferenças entre eles foram superadas e que uma agenda comum de lutas será definida nos próximos meses.

“Quando você tem uma diversidade de movimentos, cada um tem um jeito de pensar e de agir. Teve momentos de tensão, mas o discurso é de ruptura com o governo. Esse governo não representa mais os trabalhadores. É uma fala única dos movimentos, que questionam o apoio que o governo tem dado ao agronegócio”, comentou Edmundo Rodrigues Costa, da coordenação nacional da CPT

Cléber Buzatto, da coordenação do Cimi, também afirmou que os movimentos alinharam seus discursos. “Nós temos uma posição clara: o governo brasileiro beneficia e favorece o agronegócio, que é composto pelos históricos assassinos de indígenas e campesinos no nosso país. No processo de unidade, nós vemos como muito natural a existência de leituras distintas, mas no âmbito geral, avaliamos que houve uma unidade muito programática, inclusive nas ações, e manifestamos isso na marcha de hoje”, disse ele.

Entre 7 mil e 10 mil trabalhadores rurais, militantes dessas entidades, marcharam pela manhã de hoje (22) em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília. Durante a manifestação, eles derrubaram parte da grade de ferro instalada para conter multidões na Praça dos Três Poderes e foram reprimidos por agentes da Tropa de Choque da Polícia Militar com sprays de gás pimenta. Após o tumulto, quinze mulheres, representantes de movimentos sociais, foram recebidas pelo ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, para quem entregaram a declaração. O Encontro Unitário foi encerrado com um ato em frente ao Congresso, para onde os manifestantes se dirigiram depois da marcha em frente ao palácio. 

Leia a declaração na íntegra.