Operário da usina hidrelétrica de Jirau afirma ter sofrido tortura

Em audiência na CPI sobre Tráfico de Pessoas, Raimundo Braga da Silva diz ter ficado preso por 54 dias em condições desumanas

Raimundo Braga diz ter sido espancado para delatar envolvidos no incêndio em Jirau (Foto: Alexandra Martins/Agência Câmara)

São Paulo – Em março deste ano, no período em que os operários da usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, estavam em greve, o movimento de coordenação da paralisação denunciou violação dos direitos humanos contra os trabalhadores. Em meio às revoltas, os funcionários acabaram por incendiar parte do canteiro de obras. Naquele momento, os guardas da Força Nacional e policiais militares acusaram Raimundo Braga da Silva de ter participado do incêndio.

Em audência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre Tráfico de Pessoas, hoje (21) na Câmara, Raimundo afirmou que foi espancado dentro da obra por conta de sua suposta participação no movimento grevista e nos incêndios. Raimundo relatou ainda ter sido espancado para delatar quem seriam os trabalhadores envolvidos na greve. Ele conta que ficou quase dois meses preso em condições desumanas e acusa a Camargo Corrêa de tê-lo coagido a assinar uma demissão por justa causa. Raimundo disse que se recusou a assinar o documento.  “Não fiz nada de errado e agora quero o meu direito de receber o que eles me devem e de ser indenizado pelos 54 dias em que fiquei preso por uma falsa acusação”, argumentou Raimundo.

A audiência foi marcada para debater e investigar as denúncias de violação dos direitos humanos na construção da usina de Jirau. O secretário de Segurança, Defesa e Cidadania de Rondônia, Marcelo Nascimento Bessa, negou que a polícia tenha espancado o operário. Sobre o crime de incêndio, o secretário declarou que Raimundo foi absolvido por falta de provas.

O diretor de Energia da construtora Camargo Corrêa, Luiz Carlos Martins, também negou a existência de trabalho insalubre nas obras da usina. Para rebater questionamentos sobre supostas más condições de trabalho em Jirau, Martins destacou iniciativas da construtora nas áreas de capacitação profissional e educacional dos operários, além de mostrar fotografias do canteiro de obras, inclusive o refeitório e a área de lazer.

O presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA), afirmou que acredita na veracidade das ações apresentadas pela empresa Camargo Corrêa, mas enfatizou não ter dúvidas de que o relato do operário Raimundo Braga de Souza é verdadeiro. “Esse cidadão pode até ser ator e estar mentindo. Se for, me convenceu. Para mim, ele é, sim, um cidadão honrado. O Estado, inclusive, já reconheceu sua inocência e ele está até hoje sem seus documentos”, disse o presidente da CPI, deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA).

Raimundo disse ter saído satisfeito com o depoimento. “Eu falava e não era ouvido. Acho que esse é o lugar certo para dizer o que aconteceu, porque todos poderão ouvir. Espero que me ajude também a conseguir meus direitos”, disse o operário.

Com informações da Agência Câmara e Agência Brasil