CAMPANHA

Conselho Nacional de Saúde quer controle social em todas as 46 mil unidades básicas

Atualmente há conselhos locais em apenas mil. Apoiados pelo Ministério da Saúde, esses espaços de participação popular melhoram a qualidade do serviço à população e fortalecem o SUS

Prefeitura Embu Guaçu
Prefeitura Embu Guaçu
Os conselhos ajudam a aperfeiçoar o SUS com reivindicações, propostas e acompanhamento da execução dos projetos e programas

São Paulo – As 29 unidades básicas de saúde (UBS) de Vitória e os centros de referência elegem neste mês de novembro os conselhos locais para o biênio 2023-2025. Podem concorrer representantes de entidades e movimentos sociais de cada território, além dos trabalhadores do setor. A votação é coordenada pelo Conselho Municipal de Saúde.

“A participação dessas entidades nesse processo potencializa e melhora ainda mais o controle social na saúde de Vitória, hoje, referência nacional”, disse o secretário executivo do Conselho Municipal de Saúde da capital capixaba, Eduardo Gava. Nesse espaço de participação, as partes dialogam e reconhecem as realidades, buscando sempre a melhoria do atendimento para todos.

Os conselhos locais de saúde são órgãos colegiados deliberativos de caráter permanente. Sua composição tem 50% de usuários, 25% de trabalhadores da área e 25% de representantes dos gestores e prestadores de serviços. Em Vitória, são compostos por 16 conselheiros, sendo oito titulares e oito suplentes.

Criados em dezembro de 2004, os 29 conselhos locais de Vitória estão entre os cerca de mil em atividade no Brasil. O número é baixíssimo, levando em conta a quantidade de unidades básicas de saúde no país. Segundo dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 42 mil em todo o país.

População mais perto melhora o serviço de saúde

Por isso, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) deu início nesta semana a uma campanha para que cada um deles, em todo o país, passem a ter esse espaços de participação e controle. E assim aproximar a população da prestação dos serviços e também da possibilidade de ajudar no aperfeiçoamento do SUS com reivindicações, propostas e acompanhamento da execução dos projetos e programas.

“Além das UBS, os conselhos locais podem chegar a todos os equipamentos do SUS. Há hospitais em que já funcionam conselhos, com a participação de usuários e trabalhadores, por exemplo”, disse o presidente do CNS, Fernando Pigatto.

Órgão auxiliar do Ministério da Saúde, o CNS apresentou as primeiras peças de divulgação e um cronograma de execução da campanha. O objetivo para os próximos três anos criar e consolidar um conselho em cada UBS. Mas segundo Pigatto, o período previsto poderá ser estendido, assim como seu alcance.

O colegiado defende que a iniciativa se torne uma política de Estado. Ou seja, com apoio, financiamento e estrutura. Os conselhos locais são citados, pelo menos, desde a Resolução 453/2012 do CNS, mas sem definição sobre estrutura ou composição, tendo ficado, portanto, sujeitos a iniciativas pontuais.

Etapa de implementação terá recursos federais

“É um projeto em construção. Nosso objetivo é consolidar o funcionamento pleno e permanente dos conselhos locais de saúde, homologados pelas secretarias municipais de saúde”, afirmou Pigatto.

Segundo ele, a criação dos conselhos locais se dará por convencimento, em acordos com as administrações municipais. Na etapa de implementação, o projeto terá suporte de verbas federais e, ao longo do tempo, os municípios assumirão suas contrapartes. Na perspectiva orçamentária, uma das referências do projeto é o programa Dinheiro Direto na Escola, que transfere recursos para os estabelecimentos públicos de ensino para estados e municípios.

“Este é um dos projetos mais importantes que a gente vai realizar. Sempre falamos que os territórios são as melhores bases para a gente cuidar da saúde. Vamos implementá-los e, quiçá, alcançar todos os municípios do país. É um projeto que tem potencial para mudar o controle social do SUS”, disse a conselheira nacional de Saúde Ana Lúcia Paduello.

O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Swedenberger Barbosa, afirmou que, no que depender da pasta, não faltará empenho, nem financiamento. “A capilaridade do controle social é responsável, entre outras coisas, pela manutenção do SUS. Vide o período pandêmico, em que os trabalhadores e os usuários sustentaram o SUS. Quanto mais você amplia a democracia, mais ela se fortalece.”

Ampliação dos mecanismos de democracia no SUS

Ex-presidente do CNS e atual coordenador-geral de Articulação da Secretaria-Geral da Presidência da República, Ronald dos Santos afirmou que o projeto dos conselhos locais de saúde tem afinidade com a orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de ampliar os mecanismos de democracia direta, inclusive no SUS.

A experiência brasileira de controle social é referência para o restante dos países-membros da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), segundo a médica Socorro Gross, representante da entidade no Brasil. “É um exemplo para o mundo. O controle social é essencial para trazer justiça e paz para os povos e para o sistema de saúde.”

Lembrando que outros países não construíram modelo semelhante de participação social, a médica afirmou que na próxima Assembleia Mundial de Saúde vai apresentar uma resolução para estimular essa experiência internacionalmente. A campanha do CNS tem apoio também de secretários estaduais e municipais de Saúde, representados pelos conselhos nacionais dos Secretários de Saúde (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

Leia também:

Redação: Cida de Oliveira, com CNS e governo do Espírito Santo