Catadoras de material reciclável reivindicam igualdade e reconhecimento

Maioria entre os trabalhadores envolvidos na coleta e separação, elas sofrem ainda mais preconceito do que os homens e querem reverter esse quadro

São Paulo – Maioria nas regiões periféricas, as mulheres envolvidas no trabalho de coleta seletiva de materiais recicláveis têm o trabalho considerado mais “refinado”, porém menos valorizado. Pesquisa divulgada na quinta-feira (22) sobre as dimensões de gênero no setor identificou desigualdades no trabalho de catadoras e catadores, na capital paulista. As mulheres também sofrem com a sobrecarga causada pela dupla jornada, violência de gênero e problemas de saúde.

Estimativa das próprias cooperativas indica que cerca de duas mil catadoras atuam na capital paulista. Por serem reconhecidamente cuidadosas na triagem de materiais – separação de subtipos de plásticos, metais e vidros para destinar a usinas de reciclagem – elas acabam “naturalmente” encaminhadas à tarefa.

“Mas essa especialização não é valorizada, e a mulher deixa de ganhar a mais por essa habilidade”, constata Maria Lúcia da Silveira da ONG Sempre Viva Organização Feminista (SOF), uma das organizações responsáveis pelo estudo, junto do Instituto Pólis. “Nossa surpresa foi perceber que o trabalho da mulher, na triagem de materiais, é decisivo na cadeia da coleta seletiva. Essa pesquisa chama atenção para o fato de que isso é qualificação e deveria ter retorno”, pondera Maria Lúcia.

Além da delicadeza e do cuidado com os materiais, as catadoras são reconhecidamente multifuncionais – enquanto as mulheres são “multitarefas”, o homem é especializado. O trabalho realizado pelos catadores é, em geral, o de coletar materiais com carroças pelas ruas da cidade. Independentemente da função realizada, homens e mulheres percorrem o trajeto entre a casa e o local de trabalho, na maioria das vezes, a pé, para evitar gastos com transporte.

A pesquisa realizada por meio de entrevistas e oficinas com 20 catadores, entre eles 14 catadoras, detectou que as mulheres desejam ir mais às ruas para se “socializarem e verem o mundo”. Em tempos de crise, são as mulheres que mantêm as atividades e investem na continuidade do trabalho.

Tanto homens quanto mulheres reclamaram, durante as entrevistas, do extremo cansaço causado pela função. Especificamente as catadoras têm problemas com o excesso de peso dos materiais que carregam ou manejam, movimentos repetitivos e a falta de equipamentos e máquinas adequadas para o trabalho.

Os cuidados com a família também são responsabilidade das mulheres que, em geral, trabalham mais de 12 horas por dia. “Elas reivindicam compartilhamento das responsabilidades sobre os filhos e o trabalho doméstico”, afirma a ativista da SOF.

Há ainda a violência em âmbito doméstico e no trabalho. “É a cidadania demorando muito a chegar às catadoras”, resume Maria Aparecida de Laia, coordenadora geral de Assuntos da População Negra, da Secretaria Municipal de Participação e Parceria da capital paulista.

Demandas

Aos pesquisadores da SOF e do Instituto Pólis, as catadoras revelaram o desejo de ter  reconhecimento de suas habilidades, valorização financeira e proteção social com atendimento em creches e programas de habitação específicos.

No trabalho, parte da reivindicação recai sobre o compartilhamento das atividades. Embora algumas cooperativas façam rodízio de funções, em geral, elas não são bem divididas. Também são necessárias pesquisas tecnológicas para desenvolver equipamentos adequados ao trabalho de coleta seletiva.

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