Prefeitura de São Paulo faz ‘jogo sujo’, dizem moradores do Jabaquara

 São Paulo – Para moradores da região do Jabaquara, zona sul de São Paulo, a prefeitura adota propositadamente a política de dar informações desencontradas e não explicar projetos. A intenção […]

 São Paulo – Para moradores da região do Jabaquara, zona sul de São Paulo, a prefeitura adota propositadamente a política de dar informações desencontradas e não explicar projetos. A intenção seria evitar reações contrárias às obras da operação urbana consorciada Água Espraiada que deve afetar a vida de quase dez mil pessoas, em sete bairros do Jabaquara, alegam lideranças ouvidas pela Rede Brasil Atual. Mais de mil pessoas que moram em comunidades carentes decidiram não deixar o local se não houver contrapartida da prefeitura com habitações prontas.

A operação urbana prevê a extensão da avenida Jornalista Roberto Marinho – antiga avenida Água Espraiada – até a rodovia dos Imigrantes. A primeira versão do projeto foi aprovada em 2001, pela Câmara de Vereadores de São Paulo e moradores. Em 2011, a prefeitura apresentou à Casa Legislativa um novo projeto que incluiria a criação de um parque linear de 600 mil metros e a extensão do túnel previsto inicialmente para 400 metros para 2.350 metros. As mudanças no projeto enfrentam resistência de moradores por impactar um número maior de moradores.

Em seu portal na internet, a prefeitura justifica que “o projeto tem como um dos seus principais objetivos revitalizar a região com a criação de espaços públicos de lazer e esportes”.

“Quando a prefeitura tentou aprovar a licença ambiental (das obras) apresentou fotos do córrego e das favelas, não do bairro, dos sobrados, do comércio”, detalha o engenheiro civil José Orlando Ghedini, representante da Associação dos Moradores do Entorno do Aeroporto.  “É jogo sujo”, classifica.

Além do projeto da operação urbana estar ilegal, porque inclui mais obras que o aprovado pela Câmara Municipal em 2001, os moradores reclamam de ações arbitrárias do Executivo. “A prefeitura marca audiências em horários que as pessoas não podem ir e não responde às nossas questões”, denuncia a moradora Priscila Soares. “Eles (representantes da prefeitura) se esquivam o tempo todo dizendo ‘não é do meu departamento’. Então, por que foram à reunião, se não sabem responder nada!”, indigna-se.

Segundo Priscila, um mapa antigo do projeto estaria sendo divulgado. “A prefeitura solta um mapa enganoso, faz um papelão”, diz Priscila. “Um mês atrás apresentaram dados do primeiro projeto, como se não soubéssemos que foi tudo mudado”, cita José Luiz, morador da região.

Ghedini estudou o orçamento de obras similares na cidade e encontrou problemas de custos nas novas obras da operação Água Espraiada. O projeto inicial custaria de R$ 900 milhões a R$ 1 bilhão. A nova proposta do prefeito Gilberto Kassab (ex-Dem rumo ao PSD) tem orçamento de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões, informa o morador. “Só a construção do túnel vai custar R$ 2 bilhões, mais do que o dobro do projeto que está na lei 13.260 inteirinho”, detalha.

Comparando dados da própria prefeitura sobre gastos em túneis, Ghedini observou diferença de custos entre outras obras e o túnel que pode ser construído no Jabaquara. “O (túnel da Lapa) dá R$ 240 mil o metro, o nosso dá R$ 700 mil o metro”. “Eu só estou lendo o que foi publicado no site da prefeitura de São Paulo”, justifica.

Só com moradia

De acordo com a líder dos moradores da Rocinha Paulistana, Isabel Cristina Candido, as comunidades carentes só deixarão as áreas que vão fazer parte da operação urbana com moradias prontas. “Não vamos mais aceitar cheque aluguel de R$ 300”, cita, em alusão à bolsa-aluguel paga pela prefeitura. “Não nos incomodamos de desocupar a área, mas dessa forma, não queremos sair da nossa casa”, afirma.

Parte dos moradores já foi retirada quando a prefeitura oferecia até R$ 5 mil de indenização para deixar o local. Atualmente, cerca de 1.200 famílias que ainda vivem na região decidiram rejeitar a bolsa-aluguel e exigir “moradia já”, destaca. Segundo Cristina, é grande a dificuldade para conseguir um aluguel com o valor pago pela prefeitura. “Quem aceita o cheque aluguel fica esquecido. Queremos sair com dignidade.”

A liderança acredita que falta bom senso à prefeitura de São Paulo ao propor um parque de 600 mil metros, ao preço de desalojar milhares de famílias. “Não precisamos de um parque desse tamanho. É uma questão de bom senso”, diz.