Esporte e cidadania

Caso Daniel Alves: para Ana Moser, o esporte tem poder de enfrentar questões sociais

Ministra do Esporte comenta acusação de assédio e agressão sexual envolvendo o jogador. E defende que pasta atue para impedir que situações como essa se repitam

Divulgação
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"Eu vivo defendendo que a gente tem que ter essa relação dos atletas, de sua participação cidadã, com qualidade na vida do esporte"

São Paulo – A ministra do Esporte, Ana Moser, considera o caso do jogador de futebol Daniel Alves desafiador para o mundo do esporte. O atleta está preso há uma semana em Barcelona, na Espanha, sob acusação de assédio e agressão sexual. E o caso, segundo a ministra, mostra como problemas sociais, entre os quais a misoginia, precisam também ser debatidos nas arenas esportivas. O esporte “tem o poder de avançar na sociedade com inclusão, tolerância e todos os sentimentos de menos ódio e mais amor que a gente tem que desenvolver na nossa sociedade”, diz Ana Moser.

A ex-jogadora e multicampeã de vôlei participou de entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (27), organizada pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. O lateral-direito está denunciado por agredir sexualmente uma mulher de 23 anos no banheiro da boate Sutton, em Barcelona. Em depoimento, a vítima relatou ter sido chamada e trancada no local por Daniel Alves. Em seguida, o jogador ficou “batendo na cara” da jovem até consumar o ato de violência sexual. 

As imagens das câmeras de segurança da boate, que vêm sendo investigadas, mostram que a mulher ficou por cerca de 15 minutos no banheiro. Ela só deixa o local depois do brasileiro, visivelmente fragilizada. Depois de conversar com as amigas, a mulher denuncia Daniel Alves aos seguranças da casa noturna. Ela também passou por exames médicos no Hospital Clinic – que, de acordo com a imprensa espanhola, detectaram a presença de sêmen em seu vestido e também lesões causadas por agressões.

Papel do Ministério do Esporte

Preso preventivamente desde o dia 20, Daniel Alves nega as acusações. Ele, contudo, se contradisse em depoimento, ao afirmar primeiro ao Tribunal de Justiça da Catalunha que desconhecia a mulher. Dois dias depois, o jogador afirmou, porém, que houve a relação, mas, segundo ele, consensual. 

De forma breve, a ministra do Esporte ressaltou que o caso só veio à tona “porque foi num país que tem uma política de prevenção e controle dentro das casas noturnas. Foi isso que aconteceu. Seria o Daniel Alves ou qualquer outro. Enfim, é uma coisa que essa cultura e estrutura de proteção no Brasil não existem”, observou. 

Ana Moser destacou, porém, que a pasta do governo federal pode atuar, principalmente por meio da comunicação, para impedir que situações como a vivida com Daniel Alves se repitam. A chefe da pasta foi lembrada que, há menos de um ano, o também jogador de futebol Robinho foi condenado na Itália por estupro. De acordo com ela, uma das tarefas de seu ministério será reforçar a responsabilidade social e cidadã dos atletas de forma geral. 

Debate social na arena esportiva

“Faço parte de uma geração de outros atletas que pensam e agem da mesma maneira, com responsabilidade com a nossa figura pública e poder de influência”, observou. “Eu vivo defendendo que a gente tem que ter essa relação dos atletas, de sua participação cidadã, com qualidade na vida do esporte. Não só no seu treino, indo um pouco para além disso, mas participar da gestão ou não diretamente, entender o que está acontecendo, ter uma postura cidadã mais participativa. Isso é algo que as comissões de atletas têm também desenvolvido”, afirmou. 

Há ainda, na avaliação da ministra, vários movimentos dentro da sociedade que devem ser ampliados para dentro do esporte. De acordo com ela, a pasta do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende, por exemplo, ampliar o diálogo com coletivos esportivos e também as torcidas organizadas de clubes de futebol. 

“Tem um potencial grande que pode ser trabalhado de maneira positiva para melhorar várias questões que aparecem no futebol. Questões sociais como racismo, misoginia, violência, e que aparecem porque o futebol é a grande força cultural que a gente tem no país”, destacou a ministra Ana Moser.

“Quanto mais a gente estabelecer legislações, como a que recém-assinada, que equipara a injúria racial ao racismo, e estabelece claramente dentro das arenas esportivas, tudo isso caminha para que a gente avance na sociedade. Com inclusão, tolerância e todos os sentimentos de menos ódio e mais amor que a gente tem que desenvolver na nossa sociedade. O esporte tem esse poder.”  

Confira a entrevista completa 


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