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Para servidores, Butantan aproveita queda de árvores para pressioná-los a deixar suas casas

Funcionários estão sem luz, telefone e têm dificuldade para entrar e sair de suas casas desde a madrugada desta segunda-feira (29)

RBA

Até o começo da noite, servidores do Instituto Butantan continuam com árvore sobre a casa, sem luz e sem telefone

São Paulo – O temporal que atingiu as regiões sul e oeste da cidade de São Paulo na madrugada de hoje (29), derrubando mais de 260 árvores em diversos bairros, fez estragos também no Instituto Butantan, localizado no bairro de mesmo nome, próximo à Cidade Universitária. Em toda a área, que concentra os prédios para fabricação de vacinas e soros, laboratórios, o Hospital Vital Brazil, os museus, serpentários e edifícios administrativos, pelo menos 15 árvores de grande porte foram derrubadas.

O serviço de remoção foi realizado em praticamente todo o terreno do instituto subordinado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Menos no núcleo habitacional construído há mais de 50 anos para a moradia de servidores, onde residem atualmente seis famílias.

Até o fechamento desta reportagem, havia árvores derrubadas sobre casas – uma delas chegou a ficar destelhada –, sobre vielas e vias de acesso ao conjunto residencial. Foram derrubados também cabos elétricos, deixando os moradores sem energia e telefone e com dificuldades para entrar e sair de suas residências.

A prefeitura paulistana não pode fazer as remoções por se tratar de espaço pertencente ao governo estadual paulista.

Filha de servidor do Butantan, que trabalha em laboratório de imunogenética, Roberta Faustino de Camargo mora com a família, inclusive uma criança, na casa que ficou destelhada com a queda de árvore. Ela conta que os moradores procuraram a direção do instituto em busca de providências, mas a resposta não foi positiva.

“Não nos deram prazo para a retirada das árvores, disseram que a limpeza aqui não era prioridade e recomendaram que deixemos as casas porque há perigo”, disse.

De acordo com a moradora, sua família, bem como as outras cinco, não pretendem sair. “Eles (direção da Fundação Butantan) estão aproveitando a situação para pressionar a nossa saída”, disse.

As famílias permanecem no núcleo graças a uma liminar concedida pela Justiça. No começo de outubro, com a presença da Polícia Militar, o assistente técnico de apoio à pesquisa com serpentes Antonio Carlos Barbosa, que trabalha no instituto desde 1976, foi despejado pela Fundação Butantan, de direito privado.

O despejo faz parte do processo de desocupação do núcleo habitacional, construído para moradia de trabalhadores de setores que demandam regimes de plantão. As residências estão sendo reformadas para abrigar laboratórios e áreas administrativas.

A fundação quer a saída dos moradores para transformar as casas em laboratórios e áreas administrativas. Entre as justificativas da direção estão a adoção de novos mecanismos operacionais e a readequação física de todas as instalações do Complexo Butantan.

Conforme os advogados João Carlos Rodrigues dos Santos e Elaine D’ Ávila Coelho, a retomada do imóvel fere o artigo 7º da Constituição, que assegura a irredutibilidade de salário, uma vez que a ocupação do imóvel funcional está incorporada à remuneração do servidor plantonista, em atividade contínua, à disposição do estado em tempo integral.

A assessoria de imprensa do Butantan informou que só estaria à disposição na manhã desta terça para prestar esclarecimentos.