Busca de corpos do Araguaia apenas por militares é alvo de críticas

Ativistas dos direitos humanos e o ministro Paulo Vannuchi defendem direito de familiares participarem da comissão

A partir de julho, o ministério da Defesa fará expedições à região do rio Araguaia, onde, em 1974, militares executaram  dezenas de guerrilheiros do Partido Comunista Brasileiro, contrários ao regime militar até então instalado no país. O episódio ficou conhecido como “Guerrilha do Araguaia”, e até hoje vários corpos de lideranças políticas continuam desaparecidos na região. 

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A comissão formada pelo ministério da Defesa foi criticada por lideranças dos Direitos Humanos, por incluir nas buscas um militar do exército brasileiro. O general Mário Lúcio Alves de Araújo chefiará a expedição, chamada pelo governo federal de “Operação Tocantins”.

O ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos Paulo Vannuchi se diz contrário à presença do militar, que já se declarou simpático ao antigo regime. “Pessoalmente acho que não é recomendável mesmo que a operação seja só técnica e militar que ela esteja nas mãos de alguém que acaba de fazer essa declaração. Essa procura equivale a o Estado brasileiro reconhecer o que ainda deve a essas vítimas e seus familiares”, pondera.

A cientista política Glenda Mezaroba também criticou o ministério da defesa e diz que o estado brasileiro precisa cumprir as obrigações judiciais sobre a guerrilha. “Foi uma opção política do regime militar empregar a violência, não era algo inevitável”, sustenta. “O Estado brasileiro tem essa dívida, está muito atrasado em cumprir essa obrigação, é uma obrigação internacional, aliás, está prestes a ser condenado na corte interamericana dos direitos humanos justamente por não cumprir decisões judiciais a respeito da Guerrilha do Araguaia”, explica.

“Mas a comissão não pode ser só integrada, na minha interpretação, por representantes das Forças Armadas e do Ministério da Defesa. Ela tem de contar com a participação de familiares de mortos e desaparecidos e de representantes da sociedade civil”, aponta Glenda Mezaroba.

Já o advogado Hélio Bicudo, representante da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, diz que é direitos das famílias participar das buscas no Araguaia. “Todos nós brasileiros, sejamos do tempo da guerrilha, sejamos de depois da Guerrilha, temos direito à verdade. No Brasil, sonega-se a verdade. É uma maneira existencial dos políticos brasileiros, sonegar a verdade”, lamenta. Além da expedição ao Araguais, o advogado Hélio Bicudo defendeu o acesso irrestrito dos familiares aos antigos arquivos da época do regime.

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