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‘Beijaço’ na avenida Paulista rechaça discurso de ódio com demonstração pública de afeto

Ato político inspirado por declarações homofóbicas de candidato a presidente reuniu cerca de 300 pessoas em São Paulo em defesa do projeto de lei que criminaliza a homofobia

Cerca de 300 manifestantes ocuparam a avenida Paulista no fim da tarde de ontem <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Manifestantes foram se reunindo no MASP e produzindo cartazes para o protesto na hora <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Indignação de Bruno Puccinelli com a “preocupação” dos candidatos com a intimidade dos outros <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Manifestantes pediram também a cassação do registro do partido de Levi Fidélix <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Grupo repudiou afirmação do candidato de que “órgão excretor não reproduz”  <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Manifestantes ressaltaram que incitar a violência não é liberdade de expressão <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Também houve espaço para descontração no beijaço, com a drag queen Tchaka <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Manifestantes ocuparam a avenida Paulista pelo direito de “beijar quem eu quiser” <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Grupo questionou ideia de liberdade de expressão na divulgação de discursos de ódio <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Beijinhos e beijões se espalharam pelo protesto para repudiar falas de Fidélix <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Beijinhos e beijões se espalharam pelo protesto para repudiar falas de Fidélix <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>Beijinhos e beijões se espalharam pelo protesto para repudiar falas de Fidélix <span>(Danilo Ramos/RBA)</span>

São Paulo – Cerca de 300 ativistas pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e demais identidades de gênero e sexuais representadas pela sigla LGBT tomaram a avenida Paulista no final da tarde de ontem (30) para repudiar, com um “beijaço” coletivo, as ofensas homofóbicas do candidato à Presidência pelo PRTB, Levy Fidelix, realizadas em rede nacional durante debate de presidenciáveis. Os manifestantes reivindicaram a cassação do registro do candidato e a aprovação urgente do Projeto de Lei 122, de 2006, que transforma em crime a homofobia, e que está parado no Congresso por pressão das bancadas religiosas e conservadoras.

“Ele tem de pagar por isso. A impugnação da candidatura dele tem de acontecer. Até para mostrar ao mundo que nós somos um país civilizado. Se já tivéssemos a lei de criminalização da homofobia e da transfobia ele sairia de lá direto para a cadeia”, protestou o ativista LGBT e candidato a deputado federal pelo Psol Bill Santos.

Santos também convidou os presentes a realizar um novo beijaço, no próximo sábado (4), às 16h, em frente à casa de Fidelix, no bairro do Campo Belo. Para ele, é preciso reagir firmemente a este tipo de posicionamento público, pois trata-se de um motivador da violência contra a população LGBT. “Isso não pode continuar acontecendo. Pessoas irem para a televisão nos chamarem de pedófilos, agredirem e oprimirem a gente e não pagar por isso”, afirmou.

De acordo com o site Homofobia Mata, foram registrados neste ano 205 assassinatos caracterizados por homofobia, ou seja, crimes motivados por ódio contra a população LGBT. Para Majú Giorgi, do movimento Mães Pela Igualdade, se não for diretamente por homofobia, o candidato do PRTB deve ser processado por incitação ao crime. “Não é ele que segura a arma, mas o discurso dele endossa o homofóbico que vai matar os nossos filhos”, afirmou.

O ato político mirou ainda outros candidatos. A presidenta Dilma Rousseff (PT), embora seja a única a defender abertamente a criminalização da homofobia entre os candidatos no topo das pesquisas de intenção de votos, foi criticada pelo fato de a medida ainda não ter sido aprovada no Congresso, com pressão do governo sobre a base aliada. Marina, que recuou e retirou de seu programa de governo trechos importantes para a temática LGBT, também recebeu críticas. A candidata chegou a ser alvo de protestos convocados especificamente para rechaçar sua postura em relação aos direitos das minorias.

Saiba mais:

Para o sociólogo Bruno Puccinelli, a liberdade de opinião é confundida com o direito de manifestar ódio. “O problema é que o que ele fez foi em rede nacional. Ele teve um minuto e meio para destilar ódio e fazer incitação ao crime. Isso não pode passar batido”. Ele também exige a cassação do registro de Fidelix e avalia que as reações, apesar de terem sido importantes, no geral foram muito fracas “para a quantidade de ignorância e de preconceito que aquele homem falou”.

Uma das posições defendidas pelos manifestantes é que a comunidade precisa unir-se para eleger deputados federais e estaduais comprometidos com a causa LGBT, com o objetivo de garantir o enfrentamento institucional com as bancadas conservadoras, mais numerosas e organizadas. Nesta eleição, há cerca de cem candidatos que defendem a bandeira LGBT, e o grupo LGBT Brasil chegou até a criar uma cartilha para embasar a escolha de partidos e candidatos por parte da comunidade.

Organizado através das redes sociais, o ato não tinha lideranças. As pessoas foram chegando e produzindo cartazes no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida Paulista. A drag queen Tchaka, mobilizou os presentes a ocupar a avenida Paulista e convidar a população a refletir sobre os direitos que devem ser de todos e todas. “O candidato citou a Paulista. Disse que era vergonhosa a nossa presença aqui. Temos o direito de beijar quem a gente quiser.” E beijou o ativista Bill Santos, abrindo o beijaço. Os manifestantes depois seguiram em passeata até a rua da Consolação.

Um abaixo-assinado criado na plataforma de ativismo digital Avaaz na segunda-feira (29) está reunindo assinaturas para pedir a retirada de Fidelix do debate que será promovido pela TV Globo, amanhã (2).